26 de maio de 2018

Balanço Final - Liga NOS 17/ 18

 Liga NOS - Acabou-se a hegemonia e o Dragão voltou a ser feliz no ninho das águias. Numa época em que mais uma vez se acumularam as polémicas extra-futebol, e que terminou com actos de violência e lágrimas no rosto dos atletas de um clube desnorteado e impotente, o Porto proclamou-se como um justo vencedor. Para além do melhor ataque e da melhor defesa da prova, os azuis e brancos foram superiores em todos os clássicos que disputaram, foram de longe a equipa que mais tempo esteve no 1.º lugar e só à jornada 26 conheceram o sabor da derrota.
    A Liga NOS 2017/ 18 foi um recital de futebol de Jonas (34 anos e 34 golos marcados), o craque que manteve viva a esperança do Benfica até à recta final da época; mas a incapacidade da Direcção substituir elementos como Ederson, Semedo e Lindelof deixava antever este desfecho, para o qual Rui Vitória, sem ser ele o problema, nunca foi também a solução.
    Alvalade acabou em chamas, com o Sporting dividido e um prolongado litígio iminente, interessando mais valorizar na época de estreia do VAR (uma ajuda bem-vinda, embora com afinações a fazer) a extraordinária temporada do Braga de Abel, o futebol de equipa grande de Rio Ave e Chaves, e o sensacional Tondela. De elogiar também o facto dos clubes portugueses terem promovido menos despedimentos: Porto, Benfica, Sporting, Braga, Rio Ave, Chaves, Marítimo, Portimonense, Tondela, Vit. Setúbal e Feirense tiveram o mesmo treinador toda a época.
    Jonas, Marega, Bruno Fernandes, Alex Telles, Herrera, Dost, Brahimi, Shoya Nakajima ou Esgaio foram algumas das figuras de uma edição que vê Estoril e Paços de Ferreira rumarem ao segundo escalão, substituídos pelos insulares Nacional e Santa Clara (15 anos depois).

    Acompanhem-nos então neste balanço final, analisando com relativo detalhe as 18 equipas do nosso campeonato, identificando o que correu bem, o que correu mal, quem brilhou e quem desiludiu:


Resultado de imagem para fc porto 2018 campeao PORTO (1)

    Incontestável. Ambicioso, eléctrico e contagiante, Sérgio Conceição (renovou até 2020) "abanou" o Dragão e foi decisivo no regresso dos azuis e brancos aos títulos. Com toda a justiça.

    Com o melhor ataque (82 golos marcados), a melhor defesa (18 golos sofridos) da prova, e igualando o recorde de pontos (88) a 34 jornadas do Benfica de Rui Vitória em 2015/ 16, o Porto foi de longe a equipa que mais tempo ocupou o 1.º lugar, durando até à jornada 26 sem qualquer derrota.
    Dois pequenos deslizes (Paços de Ferreira e Belenenses) colocaram em dúvida quem seria o campeão, mas o Porto - sempre superior em todos os clássicos disputados - foi à Luz garantir o campeonato com um golaço de Herrera ao cair do pano.
    Numa época com muitas lesões (o bom rendimento do Porto faz-nos esquecer que Danilo Pereira este muito tempo lesionado), Sérgio Conceição foi sempre encontrando soluções e viu jogadores como Herrera, Sérgio Oliveira ou Marega saltarem para um patamar nunca antes visto. O maliano foi aliás o melhor jogador do Porto, fazendo toda a diferença com o seu poderio físico e marcando 22 golos. Também Alex Telles (um dos melhores laterais-esquerdos do futebol europeu) ficou profundamente ligado a este título com 13 assistências (melhor do campeonato nesse capítulo), destacando-se ainda o líder silencioso Marcano e Brahimi, jogador com mais fantasia da equipa e o melhor driblador em solo nacional. Com um futebol físico e processos simples, é muitas vezes menosprezada a importância esta época dos laterais do Porto, posições em que a dupla Alex Telles e Ricardo Pereira apresentou um rendimento muitísimo superior aos rivais.
    Veremos se às renovações de Casillas e do treinador se juntam as de Marcano e Dalot, perdendo o Porto a pressão de quem não ganhava há muito (4 anos sem ganhar o campeonato para o Porto é muito) e podendo a equipa construir um futuro sólido: esta temporada em 61 jogos disputados, os dragões venceram 44, empataram 11 e perderam apenas 6, caindo na Champions aos pés de um dos finalistas da prova, e despedindo-se das taças somente nas grandes penalidades.

Destaques: Moussa Marega, Alex Telles, Héctor Herrera, Yacine Brahimi, Ricardo Pereira

Resultado de imagem para jonas krovinovic benfica 2018 BENFICA (2)

   Os adeptos pediam o 37, mas houve sim o 28. A hegemonia encarnada durou quatro anos, sem que as águias conseguissem igualar o penta que só o Porto conquistou em 1998/ 99.
    Numa temporada condenada ou condicionada à priori na pré-época (Luís Filipe Vieira acomodou-se e terá achado que a máquina funcionava sozinha, nunca acrescentando ao elenco reais substitutos de Ederson, Nélson Semedo e Lindelof), Rui Vitória não foi o problema mas também nunca foi propriamente a solução, chegando o Benfica ao 2.º lugar essencialmente graças ao talento individual de Jonas. O avançado brasileiro, claramente o melhor jogador da Liga em 2017/ 18, marcou 34 golos aos 34 anos.
    Se no Porto Sérgio Conceição começou com aquele que era em teoria o melhor 11, vendo-se obrigado por várias lesões a inventar soluções e fazer crescer jogadores, com Rui Vitória aconteceu o inverso: o técnico demorou a colocar no onze jogadores que estava ao alcance de qualquer um encarar como titulares (Krovinovic, Zivkovic, Rafa), preferindo fazer durar a dado momento uma aposta absurda em Filipe Augusto ou só retirando Luisão quando o capitão se lesionou.
    Com Jonas em god mode (nunca saberemos se teria sido outro o desfecho do campeonato se o craque brasileiro tivesse dado o seu contributo contra Porto e Tondela), Fejsa teve pilhas para a época toda e o Benfica de Krovinovic foi o melhor Benfica da época, fazendo 2017/ 18 nascer a revelação Rúben Dias e confirmando que Zivkovic e Rafa podem e devem ser figuras num futuro imediato. A passagem do 4-4-2 para um 4-1-2-3 (não faz muito sentido chamar-lhe 4-3-3 dada a existência de uma linha marcada para actuação dos interiores) foi outra das importantes novidades implementadas neste Benfica.
    Com um guarda-redes sem ter qualidade para ser suplente no clube, e um quarteto defensivo inferior a Porto e Sporting, o Benfica teve desde Dezembro foco total no campeonato: o Rio Ave tirou os encarnados da Taça, na Taça CTT foram 3 empates em 3 jogos, e a humilhante e pior Champions de sempre terminou com 6 derrotas em 6 jogos e mais auto-golos que golos marcados.
    É certo que o clube da Luz chegou ao embate com o Porto com uma sequência de 9 vitórias consecutivas e 23 jornadas sem perder, mas na Hora H, o Porto foi mais corajoso e quis mais ser campeão.
    Tudo indica que Rui Vitória irá ser o treinador na próxima temporada (será que LFV corresponde ao sonho de muitos adeptos, garantindo Marco Silva, ou arrisca em Rui Faria?), época em que o Seixal (João Felix, Gedson, Florentino) continua a poder alimentar o plantel, e para a qual as atempadas movimentações (das quais Conti nos parece até ver o reforço que dá reais garantias) são um primeiro sinal de que existirão melhorias.

Destaques: Jonas, Ljubomir Fejsa, Krovinovic, Rúben Dias, Zivkovic

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 SPORTING (3)

    Um pesadelo que acabou em violência e lágrimas. Para se compreender os últimos minutos da época do Sporting, o melhor é mesmo analisar todo o filme. Depois de um super-investimento, Jorge Jesus teve condições supremas para alcançar o título (os leões não são campeões desde 2001/ 02), mas a equipa acabou arredada da Champions (os leões vacilaram na Madeira na última jornada, quando só dependiam de si mesmos para garantir a possibilidade de abraçar muitos milhões) e derrotada no Jamor diante do Desportivo das Aves.
    No plano desportivo, o teimoso Jorge Jesus voltou a acumular erros e a não saber gerir o plantel da melhor maneira, acabando no entanto a época como um verdadeiro "senhor" ao gerir um conjunto de situações no mínimo anormais. Ao longo de toda época, Bruno Fernandes foi o craque da equipa, com a sua meia distância, qualidade técnica e de passe a fazerem a diferença, salvando os leões em diversas ocasiões. Bas Dost chegou aos 27 golos, Mathieu foi um portento de classe no coração da defesa e Rui Patrício (dói ver tudo o que tem acontecido ao capitão leonino, jogador com mais jogos da História do clube) fartou-se de dar pontos. Battaglia foi sinónimo de entrega, intensidade e polivalência, Acuña revelou-se um bom reforço, Gelson Martins esteve bem mas podia ter dado ainda mais, e William foi caindo e caindo numa época que nos permitiu ver os primeiros passos de Rafael Leão.
    Alcochete acabou a arder depois de uma temporada em que o Sporting até foi dos 4 primeiros o clube que menos se pôde queixar das arbitragens e com alguma sorte nos seus trajectos nas Taças (derrotando o Porto nas meias-finais das duas competições e ambas as vezes nas grandes penalidades, os leões ganharam a Taça CTT vencendo apenas por uma vez, o União da Madeira na fase de grupos; e chegaram ao Jamor tendo no seu caminho Oleiros, Famalicão, Vilaverdense e Cova da Piedade).
    Depois do dia mais triste da História do clube (não a marcação de uma AG destituitiva, mas sim o ataque aos jogadores), acumulam-se pontos de interrogação no futuro do clube. Um Sporting instável, profundamente dividido, com um presidente populista e insano que só abandonará o cargo após prolongado litígio, possíveis rescisões, era tudo o que futebol português não precisava. 

Destaques: Bruno Fernandes, Bas Dost, Jérémy Mathieu, Rui Patrício, Gelson Martins


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 BRAGA (4)

    75 pontos (recorde do clube) e 74 golos marcados. O clube pelo qual passaram treinadores como Jorge Jesus, Leonardo Jardim, Paulo Fonseca, Carlos Carvalhal e Sérgio Conceição voltou a encontrar um técnico especial: Abel Ferreira, o treinador que merece maior destaque nesta edição.
    No começo da temporada tínhamos avisado para o facto do Sporting de Braga ser a equipa com o plantel mais homogéneo da Liga (menor diferença de qualidade entre o 1.º onze e a segunda linha de opções), e Abel soube gerir todos os activos, mantendo a equipa fresca, confortável em campo e fazendo do Braga uma máquina de bem atacar. Não poderemos contestar quem nos diga que o Braga foi a equipa que praticou bom futebol durante mais jornadas, nem tão pouco quem afirme - embora não gostemos de puxar o assunto das arbitragens - que o Braga foi a equipa mais prejudicada entre os 4 primeiros classificados.
    De meados de Fevereiro até ao final da época a equipa minhota foi impressionante! Chegaram a ser 11 jornadas consecutivas sem perder até à derrota com o Rio Ave na última ronda, vacilando a equipa com empates diante de Feirense e Boavista, que impediram o Braga de agarrar um 3.º lugar que assentava melhor face ao futebol praticado (à jornada 32, os bracarenses estavam a 3 pontos de Sporting e Benfica).
    Todos os jogadores saem valorizados desta época, em especial Ricardo Esgaio - o jogador, envolvido no negócio de Battaglia, foi um dos 8 melhores jogadores do campeonato, acumulou uns incríveis 4.163 minutos em todas as competições ao longo da época, sendo o most improved player de 2017/ 18, começando a lateral mas não demorando a encontrar na posição de médio direito (não faz sentido chamar-lhe interior nem extremo) a sua praia. Na sua estreia no primeiro escalão, Paulinho foi o melhor marcador português da prova, e o mágico Ricardo Horta (tão bem fez ao Braga ter os irmãos em campo esta época) acabou a Liga num nível incrível (11 golos, 8 assistências). Os centrais Raúl Silva (manteve a veia goleadora mas cresceu imenso na saída de bola) e Bruno Viana foram parte fundamental do sucesso desta época, merecendo ainda uma palavra de apreço Vukcevic, André Horta, Danilo ou Jefferson. Num ano a roçar a perfeição, e que deixou fortes indicações que o Braga quer e tem boas condições para atirar um dos 3 grandes para fora do pódio em 2018/19, temos pena que Bruno Xadas não tenha explodido como o primeiro mês de competição levava a crer.
    Num clube sensato, que sabe crescer de forma sustentada, o defeso começou bem com os ingressos de João Novais, Ailton e Eduardo. Veremos que outros jogadores irá ganhar Abel, ele que irá inevitavelmente perder alguns jogadores-chave: atacar elementos como Lucas Evangelista, Fabrício, Gonçalo Paciência, Pedrinho, Amilton, Maras ou Murilo, e fazer regressar Pedro Tiba seriam boas ideias.

Destaques: Ricardo Esgaio, Paulinho, Ricardo Horta, Raúl Silva, Bruno Viana

 RIO AVE (5)

    Que viveiro de talentos se tornou Vila do Conde... Depois do sétimo lugar com Luís Castro, Krovinovic e Gil Dias na época passada, o Rio Ave confiou ao ex-adjunto de Paulo Fonseca, Miguel Cardoso, a oportunidade de iniciar uma carreira a solo. O resultado: subida de dois lugares na tabela, proposta de jogo de equipa grande (só o Benfica apresentou média superior de posse de bola) e a valorização de inúmeros activos.
    O rotundo sucesso desta época deixa antever uma revolução no plantel: não é certa a continuidade do treinador Miguel Cardoso, certamente com mercado, Marcelo já foi oficializado pelo Sporting, Yuri Ribeiro regressou à Luz, João Novais rumou a Braga, e elementos como Pelé e Geraldes estarão por certo noutros palcos em 2018/ 19.
    A equipa que sempre deu gozo ver jogar obrigou os experientes Cássio e Tarantini a aprenderem novas coisas aos 37 e 34 anos respectivamente, viu Yuri Ribeiro crescer numa posição onde Rafa Soares já crescera no ano anterior, permitiu a afirmação taxativa de Pelé como trinco, confirmando o virtuosismo técnico do erudito Francisco Geraldes e apresentando João Novais, o melhor marcador de livres directos em Portugal. Recordamos que a boa 1.ª metade da época de Rúben Ribeiro lhe valeu uma transferência para Alvalade, e tínhamos alguma curiosidade de perceber qual seria a classificação final desta equipa se em vez de Guedes estivesse na frente alguém como Joel Tagueu ou Gonçalo Paciência.

Destaques: João Novais, Francisco Geraldes, Pelé, Yuri Ribeiro, Cássio

 DESP. CHAVES (6)

    Luís Manuel Ribeiro de Castro é, aos 56 anos, um dos melhores treinadores do futebol português. Que o diga o Rio Ave, que o diga o Chaves e, daqui por um ano, é provável que o Vit. Guimarães também o diga com razões para sorrir.
    No começo da época apontámos o Chaves precisamente a este 6.º lugar essencialmente graças à confiança que depositávamos no trabalho do recém-chegado treinador. Com ele duas garantias: o crescimento sustentado dos jogadores, desafiados a jogar à grande, e uma filosofia ambiciosa e de encher o olho (com uma média de 53,1% de posse de bola, o Chaves só perdeu nesse capítulo para Benfica, Rio Ave, Porto e Sporting, sendo no entanto a equipa com melhor percentagem de acerto no passe do campeonato, 81,7%).
    Os jogadores demoraram a assimilar o que Castro queria, somando o Chaves apenas 1 ponto nos primeiros 18 possíveis. Mas a noção do todo e a confiança no projecto definido e no trabalho desenvolvido levou a Direcção a dar o tempo necessário para tudo acontecer. No ano civil de 2018, o Chaves foi a 5.ª melhor equipa da Liga e marcou apenas menos 1 golo do que o Sporting.
    Orientados por Luís Castro, Matheus Pereira explodiu, Pedro Tiba fez jus à braçadeira e assumiu sempre a equipa, os centrais Maras (muito potencial) e Domingos Duarte evoluiram com o decorrer da época, e o avançado operário William chegou aos 11 golos.
    A qualificação europeia quase aconteceu. Resta agora perceber que treinador irá escolher para 2018-19 uma Direcção que já se viu que percebe de futebol.

Destaques: Matheus Pereira, Pedro Tiba, Nikola Maras, Davidson, William

 MARÍTIMO (7)

    Em 2016/ 17 o Marítimo foi sexto. Daniel Ramos perdeu o tronco principal do seu onze (Raúl Silva, Fransérgio e Dyego Sousa foram todos para Braga, saindo ainda Patrick e Maurício) e viu-se obrigado a renovar a defesa. Se dúvidas existiam sobre a qualidade do inteligente treinador de 47 anos, que não nos parece que a Madeira seja capaz de segurar muito mais tempo, foram dissipadas.
    Voltando a afirmar o seu ADN de equipa com boa transição e que sabe usar o campo com os jogadores afastados, o Marítimo arrancou o campeonato em beleza com 5 vitórias nas primeiras 6 jornadas, passou um mau período nos meses mais frios, mas voltou a encontrar-se, perdendo as aspirações europeias perto da linha da meta.
    Será facilmente lembrada como a equipa que tirou o Sporting da Champions na última jornada, mas mais do que isso é uma equipa que fica na retina pelas boas épocas de vários jogadores: bem a dupla Zainadine-Pablo, Bebeto foi sempre muito certinho na direita, e Ricardo Valente realizou a sua melhor época na I Liga.
    O argentino Correa tem muito futebol, e é impossível sobretudo não destacar o super-reforço insular: o camaronês formado no Brasil, Joel Tagueu, marcou 9 golos em 15 jogos e colocou-se na lista de desejos de muitos treinadores deste país.

Destaques: Joel, Ricardo Valente, Correa, Bebeto, Zainadine

 BOAVISTA (8)

    Competência. Aquilo que Nuno Manta Santos ou José Couceiro não foram capazes de fazer com plantéis abaixo de muitos outros, Jorge Simão foi capaz. O substituto precoce de Miguel Leal, homem que falhou em Braga mas já realizara bons trabalhos na Mata Real e em Chaves, fez da solidez defensiva, da arte de saber defender e condicionar o jogo a favor do seu futebol as suas principais armas. Conseguindo, porém, apresentar uma equipa que soube sair da toca e incomodar, nunca perdendo a segurança.
    Raphael Rossi revelou-se um achado, dando seguimento à velha tradição dos bons centrais no Bessa (nos últimos anos o clube perdeu Lucas e Paulo Vinícius e tem sabido sempre renovar o sector), enquanto que os portugueses Renato Santos e Fábio Espinho fizeram a diferença no critério e na qualidade a definir no último terço. Rui Pedro e Leonardo Ruiz foram desilusões, destacando-se pois Yusupha, atleta da Gâmbia com potencial para explodir na próxima época.

Destaques: Raphael Rossi, Renato Santos, Fábio Espinho, Yusupha

 VIT. GUIMARÃES (9)

    Época particularmente custosa para os adeptos da cidade-berço ao verem, depois de em 2016/ 17 terem "roubado" o quarto lugar ao Braga, o rival a recuperá-lo com naturalidade, fazendo-se ainda recordista de pontos.
    Nem Pedro Martins nem José Peseiro tiveram mãos para espremer um plantel que, depois de perder Marega, Hernâni e Bruno Gaspar, deixava adivinhar tempos difíceis. Num marasmo prolongado, surpreendendo apenas o facto do Vitória terminar a época acima do Portimonense (equipa que jogou muito mais), salvou-se quase só Raphinha. O já anunciado reforço do Sporting carregou autenticamente a equipa e aos 22 anos marcou 15 golos. Marca impressionante para um extremo jovem numa equipa que esteve longe de encantar.
    Hurtado e Héldon foram os fiéis escudeiros de Raphinha, numa temporada em que a melhor notícia para os vimaranenses chegou já depois do fim do campeonato: Luís Castro será o técnico do Vit. Guimarães na próxima época.

Destaques: Raphinha, Hurtado, Héldon, Konan

 PORTIMONENSE (10)

    Vítor Oliveira, o homem que sente mais prazer a lutar para subir do que para não descer, é um ser especial. Responsável nos últimos anos pelas subidas de Arouca, Moreirense, União da Madeira, Chaves e Portimonense, o treinador de 64 anos natural de Matosinhos e profundo conhecedor do futebol português, aceitou ao fim de muito tempo prosseguir uma aventura no primeiro escalão. Conclusão: um excelente 10.º lugar a meio da tabela com a equipa de Portimão (5.º melhor ataque do campeonato), estando já confirmado como treinador do relegado Paços de Ferreira em 2018/ 19.
    Os 52 golos marcados - marca abaixo apenas de Porto, Benfica, Braga e Sporting - são o melhor indicador daquela que foi a força e o segredo desta equipa, o ataque. Um dos 3 craques superlativos da equipa, Paulinho, rumou ao Porto em Janeiro, mas Portimão viu durante uma época inteira o brilho do nipónico Shoya Nakajima (10 golos, 10 assistências, 23 anos e um dos jogadores mais apaixonantes da Liga) e de Fabrício (15 golos, 5 assistências). Arriscamos afirmar que há uma probabilidade de 99.9% de ambos partirem para equipas de outra nomeada; Nakajima, tal como um jogador que destacámos no último classificado, tem qualidade para actuar num grande em Portugal, não faltando por certo interessados no criativo, pequeno e genial japonês.
    Sem Vítor Oliveira, Nakajima e Fabrício, a próxima temporada será muito complicada para o clube mais a Sul da Liga NOS. 

Destaques: Shoya Nakajima, Fabrício, Paulinho, Pedro Sá

 TONDELA (11)

    Claramente a equipa-sensação da Liga. Apesar de ter um plantel curto e que parecia condenar o Tondela à descida, Pepa afirmou-se como um dos treinadores desta edição ao operar um pequeno milagre. Depois de duas temporadas em que os beirões tinham ficado logo acima da linha de água, desta vez os lugares de descida estiveram sempre longe.
    A vitória na Luz por 3-2, que entregou o título ao Porto numa bandeja, pode ser vista como o prémio ou o coroar de uma extraordinária temporada. Cláudio Ramos voltou a ser um gigante entre os postes (foi o guarda-redes com mais defesas, somou 3 grandes penalidades defendidas e está destinado a uma baliza com outro peso), o veterano Ricardo Costa elevou a fasquia numa defesa em que Jorge Fernandes cresceu muito, Murilo realizou uma primeira volta fantástica mostrando ser um dos extremos com mais potencial em Portugal mas caiu depois, destacando-se nos flancos Miguel Cardoso e Tyler Boyd, sendo o neozelandês uma agradável surpresa. Na frente, Tomané foi determinante: aos golos, o avançado juntou um índice de trabalho brutal, chateando defesas e puxando pelos extremos da melhor maneira.

Destaques: Cláudio Ramos, Tomané, Miguel Cardoso, Tyler Boyd, Murilo

 BELENENSES (12)

    O Belenenses realizou, sensivelmente, meia época com Domingos Paciência e meia época com Silas. Domingos até deixou o clube em 11.º (um lugar acima da classificação final), mas impressionou-nos mais o trabalho desenvolvido pelo técnico estreante. Trabalho visível em campo.
    Para além de francas melhorias defensivas (com Silas o Belenenses conseguiu a dada altura ter apenas 1 golo sofrido num total de 6 jogos consecutivos), notou-se uma tentativa de enquadrar os jogadores num modelo de jogo que potenciasse as características do grupo, fazendo da equipa um osso duro de roer para qualquer adversário. No Restelo, o Porto perdeu 2-0, o Sporting venceu 4-3 e o Benfica conseguiu o empate ao cair do pano. Destaque ao longo da época para Florent e André Sousa, com Maurides a ser sistematicamente o farol das bolas longas da equipa. 

Destaques: Florent, André Sousa, Maurides, Gonçalo Silva

 DESP. AVES (13)

    Os vencedores da Taça de Portugal. Décimo terceiro lugar após a subida de divisão e a conquista do Jamor pode-se considerar um ano de sonho para a Vila das Aves. Membro do núcleo de três clubes que apresentou 3 treinadores ao longo da época - Ricardo Soares, Lito Vidigal e José Mota -, o Aves merece elogios pelo seu hercúleo desempenho na final da Taça, embora a época tenha sido atípica.
    Com um leque de reforços que nos fizeram inclusive apontar a equipa ao 11.º lugar no lançamento do campeonato, o Aves demorou a encontrar um esqueleto - prova disso o facto de apenas Ponck, Diego Galo, Rodrigo Soares, Amilton e Vítor Gomes terem passado a marca dos 2.000 minutos -, consequência natural das trocas de treinadores, diga-se.
    Ter Quim, Adriano Facchini e Artur (média de 38 anos entre os três) como opções para a baliza atesta o investimento que tem sido feito no clube. A equipa que garantiu bilhete para a próxima Supertaça mas não para a próxima Liga Europa teve em Nildo Petrolina o seu melhor jogador, mostrando tanto Amilton (podia dar tanto mais...) como Rodrigo Soares capacidade para outro patamar. A experiência de Braga e Vítor Gomes, conjugada com o futebol de dentes cerrados de Tissone, revelou-se fundamental numa época em que esperávamos que Alexandre Guedes se tivesse apresentado muito mais vezes ao nível do que mostrou na final da Taça.

Destaques: Nildo Petrolina, Amilton, Rodrigo Soares, Vítor Gomes

 VIT. SETÚBAL (14)

    Muito fez José Couceiro, e muitas saudades deixará o sobrinho-neto de Peyroteo no Sado. A equipa que mais empatou na prova (11 empates) teve o seu ponto alto da época ao chegar à final da Taça CTT - os sadinos foram derrotados pelo Sporting nas grandes penalidades, isto depois de um super-jogo de Gonçalo Paciência que ditou o seu regresso à casa-mãe. Continuando Paciência, talvez o Vitória não tivesse sofrido até ao fim.
    Pior defesa da Liga (62 golos sofridos), tendo encaixado 10 golos do Porto no total das duas voltas, 6 do Benfica na Luz, caindo também de forma significativa aos pés de Portimonense, Boavista e Marítimo, o clube voltou a equilibrar a juventude de quem se quer afirmar (Paciência, João Teixeira, André Pereira, etc.) com a experiência do goleador Edinho, de Vasco Fernandes e do amigo de longa data de Ronaldo, José Semedo.
    De futebol colectivo pouco exuberante embora combativo, o Vitória teve em João Amaral o seu melhor elemento (dá gosto ver um jogador que subiu a pulso evoluir todos os anos), acreditando nós que João Teixeira e Wallyson podiam ter aproveitado melhor o período de empréstimo; lamentável também Rafinha (apenas 56 minutos), sobre quem tínhamos elevadas expectativas, não ter correspondido na subida de escalão.

Destaques: João Amaral, Gonçalo Paciência, Costinha, Nuno Pinto, Edinho

 MOREIRENSE (15)

    Será Petit o Tony Pulis da Liga portuguesa? Depois de já ter salvo a equipa de Moreira de Cónegos na época passada (à data foi estranho o facto de não ter continuado; e desta vez volta a dizer adeus depois de um bom trabalho) e de também ter estado ligado à sobrevivência do Tondela em 15/ 16, Armando Gonçalves Teixeira voltou a fazer das suas.
    O Moreirense, tal como Paços e Aves, teve 3 treinadores ao longo da época - Manuel Machado (talvez não merecesse ter sido contratado), Sérgio Vieira (talvez não merecesse ter sido despedido) e Petit.
    A manutenção foi alcançada com vários jogos de bom rendimento nos meses de Março e Abril, sempre com Tozé e Alfa Semedo (tremenda evolução) em destaque. Parece-nos que Rafael Costa merecia ter tido mais minutos, e Zizo pode dar jogador nas mãos de um treinador que o saiba trabalhar. Em Agosto passado escrevíamos que o Moreirense estava dependente de uma super época em que Emmanuel Boateng se tornasse tudo aquilo que podia ser; no entanto, o ganês ficou-se por cá apenas 3 jogos, partindo depois para Espanha, onde fechou o campeonato com um hat-trick ao Barcelona pelo Levante. 

Destaques: Tozé, Alfa Semedo, Jhonatan, Rúben Lima

 FEIRENSE (16)

    O Feirense foi a equipa com mais derrotas da prova (21) e também a mais indisciplinada (100 cartões amarelos e 5 vermelhos), mas Nuno Manta Santos sobreviveu. Escolhido por nós como o Treinador do Ano na temporada passada, o técnico de 39 anos não foi capaz de repetir a fórmula que o levou a um épico 8.º lugar. Verdade seja dita, o elenco da equipa de Santa Maria da Feira (melhor registo defensivo que Chaves, Marítimo, Vit. Guimarães e Portimonense) não permitia muito mais. E mais difícil ficou quando um dos poucos jogadores especiais, Etebo, rumou ao futebol espanhol a meio da época.
    Para 2018/ 19 impõe-se um ataque ao mercado, numa época que servirá para perceber melhor se NMS é realmente bom treinador e qual destas duas épocas foi o acidente. Com pouco a destacar, salvaram-se alguns golaços de Luís Machado, uma boa empatia dos centrais Briseño e Flávio Ramos a partir da chegada do mexicano, e o sempre fiável Tiago Silva.

Destaques: Luís Machado, Flávio Ramos, Tiago Silva, Briseño

 PAÇOS FERREIRA (17)

    Numa temporada em que os clubes portugueses tiveram mais cabeça fria, mantendo os treinadores mais tempo do que em 2016/ 17, o Paços de Ferreira foi saltitão. Os castores começaram a época com Vasco Seabra, Petit durou de final de Outubro até ao começo de 2018, e coube a João Rodrigues orientar a equipa durante os restantes 15 jogos da segunda volta.
    Nem os reforços de Janeiro, que deviam fazer a diferença na luta pela manutenção - casos de Rúben Micael e Assis -, chegaram para dotar a equipa pacense de identidade. Na Mata Real, Luiz Phellype deixou bons apontamentos, Mabil entusiasmou em alguns jogos, Miguel Vieira foi o patrão defensivo de uma equipa que abusou do anti-jogo e se habituou a jogar sufocada, e António Xavier, sem dizer nada a ninguém, terminou o campeonato com as mesmas 8 assistências de Bruno Fernandes, Cervi, Ricardo Horta e Gelson.
    Longe vão as boas épocas de Rui Vitória, Jorge Simão e sobretudo Paulo Fonseca (foi 3.º em 2012/ 13). Não nos faz muita confusão ver o Paços a descer, mas alguém que aproveite Pedrinho e Andrézinho. E aqui entre nós, uma vez que Vítor Oliveira já abraçou este projecto, podemos dizer ao Paços: até já.

Destaques: Miguel Vieira, António Xavier, Pedrinho, Mabil

 ESTORIL (18)

    Um desperdício. Com um plantel superior (ou pelo menos com mais recursos do ponto de vista técnico) a cinco equipas da Liga, é normal que se considere um falhanço a descida do clube da Linha. No entanto, os sinais de que isto podia acontecer estavam todos lá: o 10.º lugar da época passada, com uma recta final espectacular sob o comando de Pedro Emanuel, mascarou uma época em que o clube esteve sempre perto da linha de água. Nas últimas duas épocas, a estabilidade não existiu na Amoreira (Fabiano Soares, Pedro Carmona, Pedro Emanuel e Ivo Vieira treinaram os canarinhos), desta vez com Pedro Emanuel a durar 9 jornadas e Ivo Vieira, ex-Académica, a revelar-se incapaz de solidificar uma base e retirar regularidade do samba ao seu dispor.
    Janeiro acrescentou bons reforços (Ewandro, Renan Ribeiro e o regressado Ailton), mas o clube nunca manifestou a competitividade e garra dos adversários directos, ficando no percurso uma fantástica exibição diante do Sporting (2-0) e uma 2.ª parte contra o Porto, jogada 37 dias depois, que ajudou a definir o título.
    Com vários jogadores cheios de potencial, não surpreende que o Braga já tenha agarrado Ailton Silva e Eduardo. Contudo, a nossa maior curiosidade é mesmo ver onde vai parar Lucas Evangelista - o brasileiro de 23 anos, cujo passe pertence à Udinese, é craque dos pés à cabeça e teria lugar no plantel de qualquer um dos grandes.

Destaques: Lucas Evangelista, Allano, Ailton, Eduardo


por Miguel Pontares e Tiago Moreira

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