Balanço Final - Liga NOS 18/ 19

A análise detalhada ao campeonato em que houve um antes e um depois de Bruno Lage. Em 2018/ 2019 houve Reconquista.

Prémios BPF Liga NOS 2018/ 19

Portugal viu um médio carregar sozinho o Sporting, assistiu ao nascer de um prodígio, ao renascer de um suiço, sagrando-se campeão quem teve um maestro e um velocista.

Balanço Final - Premier League 18/ 19

Na melhor Liga do mundo, foram 98 contra 97 pontos. Entre citizens e reds, entre Bernardo Silva e van Dijk, ninguém merecia perder.

Os Filmes mais Aguardados de 2019

Em 2019, Scorsese reúne a velha guarda toda, Brad Pitt será duplo de Leonardo DiCaprio, Greta Gerwig comanda um elenco feminino de luxo, Waititi será Hitler, e Joaquin Phoenix enlouquecerá debaixo da maquilhagem já usada por Nicholson ou Ledger.

21 Novas Séries a Não Perder em 2019

Renasce The Twilight Zone, Ryan Murphy muda-se para a Netflix, o Disney+ arranca com uma série Star Wars e há ainda projectos de topo na HBO e no FX.

26 de maio de 2018

Balanço Final - Liga NOS 17/ 18

 Liga NOS - Acabou-se a hegemonia e o Dragão voltou a ser feliz no ninho das águias. Numa época em que mais uma vez se acumularam as polémicas extra-futebol, e que terminou com actos de violência e lágrimas no rosto dos atletas de um clube desnorteado e impotente, o Porto proclamou-se como um justo vencedor. Para além do melhor ataque e da melhor defesa da prova, os azuis e brancos foram superiores em todos os clássicos que disputaram, foram de longe a equipa que mais tempo esteve no 1.º lugar e só à jornada 26 conheceram o sabor da derrota.
    A Liga NOS 2017/ 18 foi um recital de futebol de Jonas (34 anos e 34 golos marcados), o craque que manteve viva a esperança do Benfica até à recta final da época; mas a incapacidade da Direcção substituir elementos como Ederson, Semedo e Lindelof deixava antever este desfecho, para o qual Rui Vitória, sem ser ele o problema, nunca foi também a solução.
    Alvalade acabou em chamas, com o Sporting dividido e um prolongado litígio iminente, interessando mais valorizar na época de estreia do VAR (uma ajuda bem-vinda, embora com afinações a fazer) a extraordinária temporada do Braga de Abel, o futebol de equipa grande de Rio Ave e Chaves, e o sensacional Tondela. De elogiar também o facto dos clubes portugueses terem promovido menos despedimentos: Porto, Benfica, Sporting, Braga, Rio Ave, Chaves, Marítimo, Portimonense, Tondela, Vit. Setúbal e Feirense tiveram o mesmo treinador toda a época.
    Jonas, Marega, Bruno Fernandes, Alex Telles, Herrera, Dost, Brahimi, Shoya Nakajima ou Esgaio foram algumas das figuras de uma edição que vê Estoril e Paços de Ferreira rumarem ao segundo escalão, substituídos pelos insulares Nacional e Santa Clara (15 anos depois).

    Acompanhem-nos então neste balanço final, analisando com relativo detalhe as 18 equipas do nosso campeonato, identificando o que correu bem, o que correu mal, quem brilhou e quem desiludiu:


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    Incontestável. Ambicioso, eléctrico e contagiante, Sérgio Conceição (renovou até 2020) "abanou" o Dragão e foi decisivo no regresso dos azuis e brancos aos títulos. Com toda a justiça.

    Com o melhor ataque (82 golos marcados), a melhor defesa (18 golos sofridos) da prova, e igualando o recorde de pontos (88) a 34 jornadas do Benfica de Rui Vitória em 2015/ 16, o Porto foi de longe a equipa que mais tempo ocupou o 1.º lugar, durando até à jornada 26 sem qualquer derrota.
    Dois pequenos deslizes (Paços de Ferreira e Belenenses) colocaram em dúvida quem seria o campeão, mas o Porto - sempre superior em todos os clássicos disputados - foi à Luz garantir o campeonato com um golaço de Herrera ao cair do pano.
    Numa época com muitas lesões (o bom rendimento do Porto faz-nos esquecer que Danilo Pereira este muito tempo lesionado), Sérgio Conceição foi sempre encontrando soluções e viu jogadores como Herrera, Sérgio Oliveira ou Marega saltarem para um patamar nunca antes visto. O maliano foi aliás o melhor jogador do Porto, fazendo toda a diferença com o seu poderio físico e marcando 22 golos. Também Alex Telles (um dos melhores laterais-esquerdos do futebol europeu) ficou profundamente ligado a este título com 13 assistências (melhor do campeonato nesse capítulo), destacando-se ainda o líder silencioso Marcano e Brahimi, jogador com mais fantasia da equipa e o melhor driblador em solo nacional. Com um futebol físico e processos simples, é muitas vezes menosprezada a importância esta época dos laterais do Porto, posições em que a dupla Alex Telles e Ricardo Pereira apresentou um rendimento muitísimo superior aos rivais.
    Veremos se às renovações de Casillas e do treinador se juntam as de Marcano e Dalot, perdendo o Porto a pressão de quem não ganhava há muito (4 anos sem ganhar o campeonato para o Porto é muito) e podendo a equipa construir um futuro sólido: esta temporada em 61 jogos disputados, os dragões venceram 44, empataram 11 e perderam apenas 6, caindo na Champions aos pés de um dos finalistas da prova, e despedindo-se das taças somente nas grandes penalidades.

Destaques: Moussa Marega, Alex Telles, Héctor Herrera, Yacine Brahimi, Ricardo Pereira

Resultado de imagem para jonas krovinovic benfica 2018 BENFICA (2)

   Os adeptos pediam o 37, mas houve sim o 28. A hegemonia encarnada durou quatro anos, sem que as águias conseguissem igualar o penta que só o Porto conquistou em 1998/ 99.
    Numa temporada condenada ou condicionada à priori na pré-época (Luís Filipe Vieira acomodou-se e terá achado que a máquina funcionava sozinha, nunca acrescentando ao elenco reais substitutos de Ederson, Nélson Semedo e Lindelof), Rui Vitória não foi o problema mas também nunca foi propriamente a solução, chegando o Benfica ao 2.º lugar essencialmente graças ao talento individual de Jonas. O avançado brasileiro, claramente o melhor jogador da Liga em 2017/ 18, marcou 34 golos aos 34 anos.
    Se no Porto Sérgio Conceição começou com aquele que era em teoria o melhor 11, vendo-se obrigado por várias lesões a inventar soluções e fazer crescer jogadores, com Rui Vitória aconteceu o inverso: o técnico demorou a colocar no onze jogadores que estava ao alcance de qualquer um encarar como titulares (Krovinovic, Zivkovic, Rafa), preferindo fazer durar a dado momento uma aposta absurda em Filipe Augusto ou só retirando Luisão quando o capitão se lesionou.
    Com Jonas em god mode (nunca saberemos se teria sido outro o desfecho do campeonato se o craque brasileiro tivesse dado o seu contributo contra Porto e Tondela), Fejsa teve pilhas para a época toda e o Benfica de Krovinovic foi o melhor Benfica da época, fazendo 2017/ 18 nascer a revelação Rúben Dias e confirmando que Zivkovic e Rafa podem e devem ser figuras num futuro imediato. A passagem do 4-4-2 para um 4-1-2-3 (não faz muito sentido chamar-lhe 4-3-3 dada a existência de uma linha marcada para actuação dos interiores) foi outra das importantes novidades implementadas neste Benfica.
    Com um guarda-redes sem ter qualidade para ser suplente no clube, e um quarteto defensivo inferior a Porto e Sporting, o Benfica teve desde Dezembro foco total no campeonato: o Rio Ave tirou os encarnados da Taça, na Taça CTT foram 3 empates em 3 jogos, e a humilhante e pior Champions de sempre terminou com 6 derrotas em 6 jogos e mais auto-golos que golos marcados.
    É certo que o clube da Luz chegou ao embate com o Porto com uma sequência de 9 vitórias consecutivas e 23 jornadas sem perder, mas na Hora H, o Porto foi mais corajoso e quis mais ser campeão.
    Tudo indica que Rui Vitória irá ser o treinador na próxima temporada (será que LFV corresponde ao sonho de muitos adeptos, garantindo Marco Silva, ou arrisca em Rui Faria?), época em que o Seixal (João Felix, Gedson, Florentino) continua a poder alimentar o plantel, e para a qual as atempadas movimentações (das quais Conti nos parece até ver o reforço que dá reais garantias) são um primeiro sinal de que existirão melhorias.

Destaques: Jonas, Ljubomir Fejsa, Krovinovic, Rúben Dias, Zivkovic

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 SPORTING (3)

    Um pesadelo que acabou em violência e lágrimas. Para se compreender os últimos minutos da época do Sporting, o melhor é mesmo analisar todo o filme. Depois de um super-investimento, Jorge Jesus teve condições supremas para alcançar o título (os leões não são campeões desde 2001/ 02), mas a equipa acabou arredada da Champions (os leões vacilaram na Madeira na última jornada, quando só dependiam de si mesmos para garantir a possibilidade de abraçar muitos milhões) e derrotada no Jamor diante do Desportivo das Aves.
    No plano desportivo, o teimoso Jorge Jesus voltou a acumular erros e a não saber gerir o plantel da melhor maneira, acabando no entanto a época como um verdadeiro "senhor" ao gerir um conjunto de situações no mínimo anormais. Ao longo de toda época, Bruno Fernandes foi o craque da equipa, com a sua meia distância, qualidade técnica e de passe a fazerem a diferença, salvando os leões em diversas ocasiões. Bas Dost chegou aos 27 golos, Mathieu foi um portento de classe no coração da defesa e Rui Patrício (dói ver tudo o que tem acontecido ao capitão leonino, jogador com mais jogos da História do clube) fartou-se de dar pontos. Battaglia foi sinónimo de entrega, intensidade e polivalência, Acuña revelou-se um bom reforço, Gelson Martins esteve bem mas podia ter dado ainda mais, e William foi caindo e caindo numa época que nos permitiu ver os primeiros passos de Rafael Leão.
    Alcochete acabou a arder depois de uma temporada em que o Sporting até foi dos 4 primeiros o clube que menos se pôde queixar das arbitragens e com alguma sorte nos seus trajectos nas Taças (derrotando o Porto nas meias-finais das duas competições e ambas as vezes nas grandes penalidades, os leões ganharam a Taça CTT vencendo apenas por uma vez, o União da Madeira na fase de grupos; e chegaram ao Jamor tendo no seu caminho Oleiros, Famalicão, Vilaverdense e Cova da Piedade).
    Depois do dia mais triste da História do clube (não a marcação de uma AG destituitiva, mas sim o ataque aos jogadores), acumulam-se pontos de interrogação no futuro do clube. Um Sporting instável, profundamente dividido, com um presidente populista e insano que só abandonará o cargo após prolongado litígio, possíveis rescisões, era tudo o que futebol português não precisava. 

Destaques: Bruno Fernandes, Bas Dost, Jérémy Mathieu, Rui Patrício, Gelson Martins


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 BRAGA (4)

    75 pontos (recorde do clube) e 74 golos marcados. O clube pelo qual passaram treinadores como Jorge Jesus, Leonardo Jardim, Paulo Fonseca, Carlos Carvalhal e Sérgio Conceição voltou a encontrar um técnico especial: Abel Ferreira, o treinador que merece maior destaque nesta edição.
    No começo da temporada tínhamos avisado para o facto do Sporting de Braga ser a equipa com o plantel mais homogéneo da Liga (menor diferença de qualidade entre o 1.º onze e a segunda linha de opções), e Abel soube gerir todos os activos, mantendo a equipa fresca, confortável em campo e fazendo do Braga uma máquina de bem atacar. Não poderemos contestar quem nos diga que o Braga foi a equipa que praticou bom futebol durante mais jornadas, nem tão pouco quem afirme - embora não gostemos de puxar o assunto das arbitragens - que o Braga foi a equipa mais prejudicada entre os 4 primeiros classificados.
    De meados de Fevereiro até ao final da época a equipa minhota foi impressionante! Chegaram a ser 11 jornadas consecutivas sem perder até à derrota com o Rio Ave na última ronda, vacilando a equipa com empates diante de Feirense e Boavista, que impediram o Braga de agarrar um 3.º lugar que assentava melhor face ao futebol praticado (à jornada 32, os bracarenses estavam a 3 pontos de Sporting e Benfica).
    Todos os jogadores saem valorizados desta época, em especial Ricardo Esgaio - o jogador, envolvido no negócio de Battaglia, foi um dos 8 melhores jogadores do campeonato, acumulou uns incríveis 4.163 minutos em todas as competições ao longo da época, sendo o most improved player de 2017/ 18, começando a lateral mas não demorando a encontrar na posição de médio direito (não faz sentido chamar-lhe interior nem extremo) a sua praia. Na sua estreia no primeiro escalão, Paulinho foi o melhor marcador português da prova, e o mágico Ricardo Horta (tão bem fez ao Braga ter os irmãos em campo esta época) acabou a Liga num nível incrível (11 golos, 8 assistências). Os centrais Raúl Silva (manteve a veia goleadora mas cresceu imenso na saída de bola) e Bruno Viana foram parte fundamental do sucesso desta época, merecendo ainda uma palavra de apreço Vukcevic, André Horta, Danilo ou Jefferson. Num ano a roçar a perfeição, e que deixou fortes indicações que o Braga quer e tem boas condições para atirar um dos 3 grandes para fora do pódio em 2018/19, temos pena que Bruno Xadas não tenha explodido como o primeiro mês de competição levava a crer.
    Num clube sensato, que sabe crescer de forma sustentada, o defeso começou bem com os ingressos de João Novais, Ailton e Eduardo. Veremos que outros jogadores irá ganhar Abel, ele que irá inevitavelmente perder alguns jogadores-chave: atacar elementos como Lucas Evangelista, Fabrício, Gonçalo Paciência, Pedrinho, Amilton, Maras ou Murilo, e fazer regressar Pedro Tiba seriam boas ideias.

Destaques: Ricardo Esgaio, Paulinho, Ricardo Horta, Raúl Silva, Bruno Viana

 RIO AVE (5)

    Que viveiro de talentos se tornou Vila do Conde... Depois do sétimo lugar com Luís Castro, Krovinovic e Gil Dias na época passada, o Rio Ave confiou ao ex-adjunto de Paulo Fonseca, Miguel Cardoso, a oportunidade de iniciar uma carreira a solo. O resultado: subida de dois lugares na tabela, proposta de jogo de equipa grande (só o Benfica apresentou média superior de posse de bola) e a valorização de inúmeros activos.
    O rotundo sucesso desta época deixa antever uma revolução no plantel: não é certa a continuidade do treinador Miguel Cardoso, certamente com mercado, Marcelo já foi oficializado pelo Sporting, Yuri Ribeiro regressou à Luz, João Novais rumou a Braga, e elementos como Pelé e Geraldes estarão por certo noutros palcos em 2018/ 19.
    A equipa que sempre deu gozo ver jogar obrigou os experientes Cássio e Tarantini a aprenderem novas coisas aos 37 e 34 anos respectivamente, viu Yuri Ribeiro crescer numa posição onde Rafa Soares já crescera no ano anterior, permitiu a afirmação taxativa de Pelé como trinco, confirmando o virtuosismo técnico do erudito Francisco Geraldes e apresentando João Novais, o melhor marcador de livres directos em Portugal. Recordamos que a boa 1.ª metade da época de Rúben Ribeiro lhe valeu uma transferência para Alvalade, e tínhamos alguma curiosidade de perceber qual seria a classificação final desta equipa se em vez de Guedes estivesse na frente alguém como Joel Tagueu ou Gonçalo Paciência.

Destaques: João Novais, Francisco Geraldes, Pelé, Yuri Ribeiro, Cássio

 DESP. CHAVES (6)

    Luís Manuel Ribeiro de Castro é, aos 56 anos, um dos melhores treinadores do futebol português. Que o diga o Rio Ave, que o diga o Chaves e, daqui por um ano, é provável que o Vit. Guimarães também o diga com razões para sorrir.
    No começo da época apontámos o Chaves precisamente a este 6.º lugar essencialmente graças à confiança que depositávamos no trabalho do recém-chegado treinador. Com ele duas garantias: o crescimento sustentado dos jogadores, desafiados a jogar à grande, e uma filosofia ambiciosa e de encher o olho (com uma média de 53,1% de posse de bola, o Chaves só perdeu nesse capítulo para Benfica, Rio Ave, Porto e Sporting, sendo no entanto a equipa com melhor percentagem de acerto no passe do campeonato, 81,7%).
    Os jogadores demoraram a assimilar o que Castro queria, somando o Chaves apenas 1 ponto nos primeiros 18 possíveis. Mas a noção do todo e a confiança no projecto definido e no trabalho desenvolvido levou a Direcção a dar o tempo necessário para tudo acontecer. No ano civil de 2018, o Chaves foi a 5.ª melhor equipa da Liga e marcou apenas menos 1 golo do que o Sporting.
    Orientados por Luís Castro, Matheus Pereira explodiu, Pedro Tiba fez jus à braçadeira e assumiu sempre a equipa, os centrais Maras (muito potencial) e Domingos Duarte evoluiram com o decorrer da época, e o avançado operário William chegou aos 11 golos.
    A qualificação europeia quase aconteceu. Resta agora perceber que treinador irá escolher para 2018-19 uma Direcção que já se viu que percebe de futebol.

Destaques: Matheus Pereira, Pedro Tiba, Nikola Maras, Davidson, William

 MARÍTIMO (7)

    Em 2016/ 17 o Marítimo foi sexto. Daniel Ramos perdeu o tronco principal do seu onze (Raúl Silva, Fransérgio e Dyego Sousa foram todos para Braga, saindo ainda Patrick e Maurício) e viu-se obrigado a renovar a defesa. Se dúvidas existiam sobre a qualidade do inteligente treinador de 47 anos, que não nos parece que a Madeira seja capaz de segurar muito mais tempo, foram dissipadas.
    Voltando a afirmar o seu ADN de equipa com boa transição e que sabe usar o campo com os jogadores afastados, o Marítimo arrancou o campeonato em beleza com 5 vitórias nas primeiras 6 jornadas, passou um mau período nos meses mais frios, mas voltou a encontrar-se, perdendo as aspirações europeias perto da linha da meta.
    Será facilmente lembrada como a equipa que tirou o Sporting da Champions na última jornada, mas mais do que isso é uma equipa que fica na retina pelas boas épocas de vários jogadores: bem a dupla Zainadine-Pablo, Bebeto foi sempre muito certinho na direita, e Ricardo Valente realizou a sua melhor época na I Liga.
    O argentino Correa tem muito futebol, e é impossível sobretudo não destacar o super-reforço insular: o camaronês formado no Brasil, Joel Tagueu, marcou 9 golos em 15 jogos e colocou-se na lista de desejos de muitos treinadores deste país.

Destaques: Joel, Ricardo Valente, Correa, Bebeto, Zainadine

 BOAVISTA (8)

    Competência. Aquilo que Nuno Manta Santos ou José Couceiro não foram capazes de fazer com plantéis abaixo de muitos outros, Jorge Simão foi capaz. O substituto precoce de Miguel Leal, homem que falhou em Braga mas já realizara bons trabalhos na Mata Real e em Chaves, fez da solidez defensiva, da arte de saber defender e condicionar o jogo a favor do seu futebol as suas principais armas. Conseguindo, porém, apresentar uma equipa que soube sair da toca e incomodar, nunca perdendo a segurança.
    Raphael Rossi revelou-se um achado, dando seguimento à velha tradição dos bons centrais no Bessa (nos últimos anos o clube perdeu Lucas e Paulo Vinícius e tem sabido sempre renovar o sector), enquanto que os portugueses Renato Santos e Fábio Espinho fizeram a diferença no critério e na qualidade a definir no último terço. Rui Pedro e Leonardo Ruiz foram desilusões, destacando-se pois Yusupha, atleta da Gâmbia com potencial para explodir na próxima época.

Destaques: Raphael Rossi, Renato Santos, Fábio Espinho, Yusupha

 VIT. GUIMARÃES (9)

    Época particularmente custosa para os adeptos da cidade-berço ao verem, depois de em 2016/ 17 terem "roubado" o quarto lugar ao Braga, o rival a recuperá-lo com naturalidade, fazendo-se ainda recordista de pontos.
    Nem Pedro Martins nem José Peseiro tiveram mãos para espremer um plantel que, depois de perder Marega, Hernâni e Bruno Gaspar, deixava adivinhar tempos difíceis. Num marasmo prolongado, surpreendendo apenas o facto do Vitória terminar a época acima do Portimonense (equipa que jogou muito mais), salvou-se quase só Raphinha. O já anunciado reforço do Sporting carregou autenticamente a equipa e aos 22 anos marcou 15 golos. Marca impressionante para um extremo jovem numa equipa que esteve longe de encantar.
    Hurtado e Héldon foram os fiéis escudeiros de Raphinha, numa temporada em que a melhor notícia para os vimaranenses chegou já depois do fim do campeonato: Luís Castro será o técnico do Vit. Guimarães na próxima época.

Destaques: Raphinha, Hurtado, Héldon, Konan

 PORTIMONENSE (10)

    Vítor Oliveira, o homem que sente mais prazer a lutar para subir do que para não descer, é um ser especial. Responsável nos últimos anos pelas subidas de Arouca, Moreirense, União da Madeira, Chaves e Portimonense, o treinador de 64 anos natural de Matosinhos e profundo conhecedor do futebol português, aceitou ao fim de muito tempo prosseguir uma aventura no primeiro escalão. Conclusão: um excelente 10.º lugar a meio da tabela com a equipa de Portimão (5.º melhor ataque do campeonato), estando já confirmado como treinador do relegado Paços de Ferreira em 2018/ 19.
    Os 52 golos marcados - marca abaixo apenas de Porto, Benfica, Braga e Sporting - são o melhor indicador daquela que foi a força e o segredo desta equipa, o ataque. Um dos 3 craques superlativos da equipa, Paulinho, rumou ao Porto em Janeiro, mas Portimão viu durante uma época inteira o brilho do nipónico Shoya Nakajima (10 golos, 10 assistências, 23 anos e um dos jogadores mais apaixonantes da Liga) e de Fabrício (15 golos, 5 assistências). Arriscamos afirmar que há uma probabilidade de 99.9% de ambos partirem para equipas de outra nomeada; Nakajima, tal como um jogador que destacámos no último classificado, tem qualidade para actuar num grande em Portugal, não faltando por certo interessados no criativo, pequeno e genial japonês.
    Sem Vítor Oliveira, Nakajima e Fabrício, a próxima temporada será muito complicada para o clube mais a Sul da Liga NOS. 

Destaques: Shoya Nakajima, Fabrício, Paulinho, Pedro Sá

 TONDELA (11)

    Claramente a equipa-sensação da Liga. Apesar de ter um plantel curto e que parecia condenar o Tondela à descida, Pepa afirmou-se como um dos treinadores desta edição ao operar um pequeno milagre. Depois de duas temporadas em que os beirões tinham ficado logo acima da linha de água, desta vez os lugares de descida estiveram sempre longe.
    A vitória na Luz por 3-2, que entregou o título ao Porto numa bandeja, pode ser vista como o prémio ou o coroar de uma extraordinária temporada. Cláudio Ramos voltou a ser um gigante entre os postes (foi o guarda-redes com mais defesas, somou 3 grandes penalidades defendidas e está destinado a uma baliza com outro peso), o veterano Ricardo Costa elevou a fasquia numa defesa em que Jorge Fernandes cresceu muito, Murilo realizou uma primeira volta fantástica mostrando ser um dos extremos com mais potencial em Portugal mas caiu depois, destacando-se nos flancos Miguel Cardoso e Tyler Boyd, sendo o neozelandês uma agradável surpresa. Na frente, Tomané foi determinante: aos golos, o avançado juntou um índice de trabalho brutal, chateando defesas e puxando pelos extremos da melhor maneira.

Destaques: Cláudio Ramos, Tomané, Miguel Cardoso, Tyler Boyd, Murilo

 BELENENSES (12)

    O Belenenses realizou, sensivelmente, meia época com Domingos Paciência e meia época com Silas. Domingos até deixou o clube em 11.º (um lugar acima da classificação final), mas impressionou-nos mais o trabalho desenvolvido pelo técnico estreante. Trabalho visível em campo.
    Para além de francas melhorias defensivas (com Silas o Belenenses conseguiu a dada altura ter apenas 1 golo sofrido num total de 6 jogos consecutivos), notou-se uma tentativa de enquadrar os jogadores num modelo de jogo que potenciasse as características do grupo, fazendo da equipa um osso duro de roer para qualquer adversário. No Restelo, o Porto perdeu 2-0, o Sporting venceu 4-3 e o Benfica conseguiu o empate ao cair do pano. Destaque ao longo da época para Florent e André Sousa, com Maurides a ser sistematicamente o farol das bolas longas da equipa. 

Destaques: Florent, André Sousa, Maurides, Gonçalo Silva

 DESP. AVES (13)

    Os vencedores da Taça de Portugal. Décimo terceiro lugar após a subida de divisão e a conquista do Jamor pode-se considerar um ano de sonho para a Vila das Aves. Membro do núcleo de três clubes que apresentou 3 treinadores ao longo da época - Ricardo Soares, Lito Vidigal e José Mota -, o Aves merece elogios pelo seu hercúleo desempenho na final da Taça, embora a época tenha sido atípica.
    Com um leque de reforços que nos fizeram inclusive apontar a equipa ao 11.º lugar no lançamento do campeonato, o Aves demorou a encontrar um esqueleto - prova disso o facto de apenas Ponck, Diego Galo, Rodrigo Soares, Amilton e Vítor Gomes terem passado a marca dos 2.000 minutos -, consequência natural das trocas de treinadores, diga-se.
    Ter Quim, Adriano Facchini e Artur (média de 38 anos entre os três) como opções para a baliza atesta o investimento que tem sido feito no clube. A equipa que garantiu bilhete para a próxima Supertaça mas não para a próxima Liga Europa teve em Nildo Petrolina o seu melhor jogador, mostrando tanto Amilton (podia dar tanto mais...) como Rodrigo Soares capacidade para outro patamar. A experiência de Braga e Vítor Gomes, conjugada com o futebol de dentes cerrados de Tissone, revelou-se fundamental numa época em que esperávamos que Alexandre Guedes se tivesse apresentado muito mais vezes ao nível do que mostrou na final da Taça.

Destaques: Nildo Petrolina, Amilton, Rodrigo Soares, Vítor Gomes

 VIT. SETÚBAL (14)

    Muito fez José Couceiro, e muitas saudades deixará o sobrinho-neto de Peyroteo no Sado. A equipa que mais empatou na prova (11 empates) teve o seu ponto alto da época ao chegar à final da Taça CTT - os sadinos foram derrotados pelo Sporting nas grandes penalidades, isto depois de um super-jogo de Gonçalo Paciência que ditou o seu regresso à casa-mãe. Continuando Paciência, talvez o Vitória não tivesse sofrido até ao fim.
    Pior defesa da Liga (62 golos sofridos), tendo encaixado 10 golos do Porto no total das duas voltas, 6 do Benfica na Luz, caindo também de forma significativa aos pés de Portimonense, Boavista e Marítimo, o clube voltou a equilibrar a juventude de quem se quer afirmar (Paciência, João Teixeira, André Pereira, etc.) com a experiência do goleador Edinho, de Vasco Fernandes e do amigo de longa data de Ronaldo, José Semedo.
    De futebol colectivo pouco exuberante embora combativo, o Vitória teve em João Amaral o seu melhor elemento (dá gosto ver um jogador que subiu a pulso evoluir todos os anos), acreditando nós que João Teixeira e Wallyson podiam ter aproveitado melhor o período de empréstimo; lamentável também Rafinha (apenas 56 minutos), sobre quem tínhamos elevadas expectativas, não ter correspondido na subida de escalão.

Destaques: João Amaral, Gonçalo Paciência, Costinha, Nuno Pinto, Edinho

 MOREIRENSE (15)

    Será Petit o Tony Pulis da Liga portuguesa? Depois de já ter salvo a equipa de Moreira de Cónegos na época passada (à data foi estranho o facto de não ter continuado; e desta vez volta a dizer adeus depois de um bom trabalho) e de também ter estado ligado à sobrevivência do Tondela em 15/ 16, Armando Gonçalves Teixeira voltou a fazer das suas.
    O Moreirense, tal como Paços e Aves, teve 3 treinadores ao longo da época - Manuel Machado (talvez não merecesse ter sido contratado), Sérgio Vieira (talvez não merecesse ter sido despedido) e Petit.
    A manutenção foi alcançada com vários jogos de bom rendimento nos meses de Março e Abril, sempre com Tozé e Alfa Semedo (tremenda evolução) em destaque. Parece-nos que Rafael Costa merecia ter tido mais minutos, e Zizo pode dar jogador nas mãos de um treinador que o saiba trabalhar. Em Agosto passado escrevíamos que o Moreirense estava dependente de uma super época em que Emmanuel Boateng se tornasse tudo aquilo que podia ser; no entanto, o ganês ficou-se por cá apenas 3 jogos, partindo depois para Espanha, onde fechou o campeonato com um hat-trick ao Barcelona pelo Levante. 

Destaques: Tozé, Alfa Semedo, Jhonatan, Rúben Lima

 FEIRENSE (16)

    O Feirense foi a equipa com mais derrotas da prova (21) e também a mais indisciplinada (100 cartões amarelos e 5 vermelhos), mas Nuno Manta Santos sobreviveu. Escolhido por nós como o Treinador do Ano na temporada passada, o técnico de 39 anos não foi capaz de repetir a fórmula que o levou a um épico 8.º lugar. Verdade seja dita, o elenco da equipa de Santa Maria da Feira (melhor registo defensivo que Chaves, Marítimo, Vit. Guimarães e Portimonense) não permitia muito mais. E mais difícil ficou quando um dos poucos jogadores especiais, Etebo, rumou ao futebol espanhol a meio da época.
    Para 2018/ 19 impõe-se um ataque ao mercado, numa época que servirá para perceber melhor se NMS é realmente bom treinador e qual destas duas épocas foi o acidente. Com pouco a destacar, salvaram-se alguns golaços de Luís Machado, uma boa empatia dos centrais Briseño e Flávio Ramos a partir da chegada do mexicano, e o sempre fiável Tiago Silva.

Destaques: Luís Machado, Flávio Ramos, Tiago Silva, Briseño

 PAÇOS FERREIRA (17)

    Numa temporada em que os clubes portugueses tiveram mais cabeça fria, mantendo os treinadores mais tempo do que em 2016/ 17, o Paços de Ferreira foi saltitão. Os castores começaram a época com Vasco Seabra, Petit durou de final de Outubro até ao começo de 2018, e coube a João Rodrigues orientar a equipa durante os restantes 15 jogos da segunda volta.
    Nem os reforços de Janeiro, que deviam fazer a diferença na luta pela manutenção - casos de Rúben Micael e Assis -, chegaram para dotar a equipa pacense de identidade. Na Mata Real, Luiz Phellype deixou bons apontamentos, Mabil entusiasmou em alguns jogos, Miguel Vieira foi o patrão defensivo de uma equipa que abusou do anti-jogo e se habituou a jogar sufocada, e António Xavier, sem dizer nada a ninguém, terminou o campeonato com as mesmas 8 assistências de Bruno Fernandes, Cervi, Ricardo Horta e Gelson.
    Longe vão as boas épocas de Rui Vitória, Jorge Simão e sobretudo Paulo Fonseca (foi 3.º em 2012/ 13). Não nos faz muita confusão ver o Paços a descer, mas alguém que aproveite Pedrinho e Andrézinho. E aqui entre nós, uma vez que Vítor Oliveira já abraçou este projecto, podemos dizer ao Paços: até já.

Destaques: Miguel Vieira, António Xavier, Pedrinho, Mabil

 ESTORIL (18)

    Um desperdício. Com um plantel superior (ou pelo menos com mais recursos do ponto de vista técnico) a cinco equipas da Liga, é normal que se considere um falhanço a descida do clube da Linha. No entanto, os sinais de que isto podia acontecer estavam todos lá: o 10.º lugar da época passada, com uma recta final espectacular sob o comando de Pedro Emanuel, mascarou uma época em que o clube esteve sempre perto da linha de água. Nas últimas duas épocas, a estabilidade não existiu na Amoreira (Fabiano Soares, Pedro Carmona, Pedro Emanuel e Ivo Vieira treinaram os canarinhos), desta vez com Pedro Emanuel a durar 9 jornadas e Ivo Vieira, ex-Académica, a revelar-se incapaz de solidificar uma base e retirar regularidade do samba ao seu dispor.
    Janeiro acrescentou bons reforços (Ewandro, Renan Ribeiro e o regressado Ailton), mas o clube nunca manifestou a competitividade e garra dos adversários directos, ficando no percurso uma fantástica exibição diante do Sporting (2-0) e uma 2.ª parte contra o Porto, jogada 37 dias depois, que ajudou a definir o título.
    Com vários jogadores cheios de potencial, não surpreende que o Braga já tenha agarrado Ailton Silva e Eduardo. Contudo, a nossa maior curiosidade é mesmo ver onde vai parar Lucas Evangelista - o brasileiro de 23 anos, cujo passe pertence à Udinese, é craque dos pés à cabeça e teria lugar no plantel de qualquer um dos grandes.

Destaques: Lucas Evangelista, Allano, Ailton, Eduardo


por Miguel Pontares e Tiago Moreira

22 de maio de 2018

Balanço Final - Premier League 17/ 18

  Barclays Premier League - Difícil de esquecer. Após vários meses de competição, a Premier League 2017/ 18 chegou ao fim e coroou uma equipa que coleccionou recordes e elogios pelo seu bom futebol. No campeonato mais competitivo e difícil do Velho Continente, o Manchester City passeou.    
    Convertendo neutros, maravilhando os seus adeptos e obrigando os rivais a reconhecerem a total supremacia e justiça das suas conquistas, os citizens assimilaram por fim o ADN Guardiola e mostraram ter potencial para construir um domínio em Inglaterra (é preciso recuar até 2008/ 09 para encontrar uma equipa, o Manchester United de Sir Alex Ferguson à data, a sagrar-se bicampeã na Premier League), almejando saltar para outro patamar a nível europeu.

    Mas falar desta época é falar da confirmação do anunciado adeus de um daqueles poucos treinadores que ainda se confunde com um clube: Arsène Wenger, após 22 anos ao serviço do Arsenal, deixa os gunners. E o rival Chelsea, que esta época defendia o título, talvez não demore a despedir-se de Conte: o treinador italiano complicou e "estragou" aquilo que podia ser simples, passando do 1.º para o 5.º lugar. À Champions, a ópera dos ricos, vão em 18-19 Manchester City, Manchester United, Tottenham e Liverpool.

    West Brom, Stoke e Swansea rumam ao Championship, por troca com Wolves (incríveis Rúben Neves, Diogo Jota e Nuno Espírito Santo), Cardiff e um entre Fulham e Aston Villa (a decisão faz-se em Wembley a 26 de Maio).
    Na edição em que o Burnley surpreendeu tudo e todos, ficam na retina sobretudo os recitais de bom futebol do Manchester City, com Kevin De Bruyne no comando das operações, e os contra-ataques mortíferos do Liverpool, terminados num festejo de Salah de braços abertos a encarar a multidão.
    Acompanhem-nos então numa análise à época das 20 equipas da Premier League, sistematizando ideias-chave, o que correu bem, o que correu mal, quem brilhou e quem desiludiu:



Resultado de imagem para manchester city 2018 trophee MANCHESTER CITY (1)

    Cem pontos. No antevisão da prova, previmos o City como campeão e assim foi. Depois de uma 1.ª época em que Guardiola ficou a conhecer a Liga e o país, e os jogadores começaram a assimilar as ideias do treinador, o espanhol tirou notas, identificou os reforços certos e não deu hipóteses a ninguém.
    Num campeonato em que o Manchester azul celeste foi o melhor ataque (106 golos marcados) e a melhor defesa (27 golos sofridos), os inéditos 100 pontos conquistados são apenas um de muitos recordes que esta máquina de bom futebol amealhou. A saber: mais pontos de sempre (100), mais vitórias (32), mais vitórias consecutivas (18), mais vitórias fora (16), mais golos de sempre (106), maior diferença de golos de sempre (+79) e maior diferença pontual de sempre para o 2.º classificado (19 pontos).
    Todos estes recordes teriam tremendo significado, mas mais têm ao tratar-se da Premier League - liga em que cada ponto é suado, multiplicando-se as surpresas que deixam de o ser, podendo qualquer equipa pontuar em qualquer campo. Coube ao Liverpool - equipa que também empurrou o City para fora da Liga dos Campeões - em Anfield (4-3) e ao Manchester United (2-3), num jogo em que a equipa de Mourinho se fez grande e adiou o título, impedirem esta brutal equipa de repetir a façanha do Arsenal (os invencíveis de Wenger em 2003/ 04).
    Com Ederson a confirmar-se o guarda-redes perfeito para o estilo de jogo da equipa, Guardiola viu Otamendi tornar-se patrão (variando o parceiro entre Stones, Kompany e Laporte), Kyle Walker aprender que o futebol não são só correrias desenfreadas, tendo depois que, perante a lesão do reforço Mendy, descobrir em Delph um lateral-esquerdo.
     Com o capitão David Silva, cada vez mais um híbrido entre Xavi e Iniesta, a ser o prolongamento ou representação do técnico em campo, esta época viu Sterling explodir (já duvidávamos que o inglês pudesse atingir esta regularidade e estes números) e Sané mostrar que tem tudo para se tornar um caso muito sério no futebol europeu, com Fernandinho a proteger os criativos e, na frente, Agüero e Gabriel Jesus a dividirem as despesas de golos. No entanto, falar deste City (futebol matemático na ocupação dos espaços e oferta de soluções, dinâmica reacção à perda da bola e boa leitura e antecipação com jogadores com elevado QI futebolístico, posse e circulação com significado, talento, criatividade, risco e irreverência no último terço) é falar de um jogador diferente e especial, o belga Kevin De Bruyne. Senhor de jogos grandes (conseguiu a proeza de ser eleito melhor em campo na 1.ª volta contra Manchester United, Liverpool, Tottenham, Arsenal e Chelsea) e de uma consistência incrível, o jogador mais impressionante desta Premier League catapultou-se para um patamar de classe mundial, controlando jogos quase sozinho com a sua visão, qualidade de passe, energia e inteligência.
    Próximos desafios: garantir o bicampeonato, algo que ninguém consegue em Inglaterra desde 2009, e atingir uma final da Liga dos Campeões.

Destaques: De Bruyne, David Silva, Leroy Sané, Raheem Sterling, Fernandinho


 MANCHESTER UNITED (2)

    Mourinho, o que é que te aconteceu? É inequívoco que o Manchester United evoluiu (afinal, passou de 6.º para 2.º classificado), mas quem vai às compras e consegue craques de luxo e de impacto imediato como Paul Pogba, Romelu Lukaku e Alexis Sánchez, tem no mínimo que... jogar bem.
    Embora em segundo, Old Trafford continua longe do título. Noutros tempos, cinco anos consecutivos sem vencer a Premier seria algo chocante. Será o português o treinador certo para o clube? Não precisará Mourinho, estagnado, conservador, amedrontado e traumatizado com as vezes em que não ganhou, de se reinventar e reencontrar a fome, garra e coragem que marcaram os primeiros 10 anos da sua carreira?
    Matic foi uma soberba contratação, Lingard evoluiu sobremaneira, e em relação ao guarda-redes espanhol David De Gea (melhor do mundo?), principal figura da equipa, basta-nos dizer que mascarou lacunas defensivas da equipa, fazendo toda a diferença com inúmeras defesas do outro mundo: sem De Gea, talvez o United não terminasse no Top-4.
     Chega de desperdiçar ou não potenciar devidamente jogadores - nos últimos anos o clube não aproveitou craques como Depay, Di María (responsabilidade de van Gaal) e Mkhitaryan, oxalá Alexis Sánchez não vá pelo mesmo caminho, e mesmo Pogba, Rashford ou Lukaku podiam e deviam já estar noutro patamar.
    Mas porque nem tudo são críticas, deve-se enaltecer a capacidade que o Manchester United revelou na segunda volta deste campeonato diante dos restantes grandes. A equipa, que antes jogava para não perder, exibiu-se mais de acordo com a sua História e venceu o Chelsea por 2-1, o Liverpool por 2-1, o Manchester City por 3-2 e o Arsenal por 2-1. E se é verdade que perdeu com o Tottenham por 2-0, também é verdade que derrotou os spurs nas meias-finais da FA Cup (2-1). Faltou só ganhar depois o derradeiro jogo em Wembley.

Destaques: David De Gea, Nemanja Matic, Jesse Lingard, Antonio Valencia, Romelu Lukaku


 TOTTENHAM (3)

    Um passo atrás, quiçá para dar dois à frente. O Tottenham, com a casa em obras, viu-se obrigado a dizer "até já" a White Hart Lane, passando a actuar em Wembley. Terceiro lugar, a 4 pontos do segundo, não é um mau resultado; mas o factor Wembley, parece-nos, impediu a equipa de reproduzir a dinâmica, frescura e o dominante futebol dos últimos anos.
    Pochettino viu o matador Harry Kane melhorar os seus números (30 golos na Premier League; fechou o ano civil de 2017 com 56 golos, ficando acima de Messi, Lewandowski, Ronaldo e Cavani) e Eriksen realizar jogos ao nível dos maiores craques. Vertonghen esteve melhor que nunca, Son Heung-Min esteve um bocadinho melhor do que no ano passado, Dele Alli um bocadinho pior, cabendo depois a Ben Davies e ao reforço Davinson Sánchez atirarem Danny Rose e Alderweireld (ambos lesionados, o belga mais tempo) para o banco, podendo inclusive rumar a outras paragens no defeso que se aproxima.
    Com o quarto melhor ataque e a terceira melhor defesa, os spurs mostraram melhor futebol que o Manchester United, mas por outro lado é um pouco estranho ver o Tottenham a terminar a temporada acima do Liverpool. Para 2018/ 19, dois pontos fundamentais: seria óptimo deixar Wembley e poder abraçar o novo White Hart Lane com capacidade para 61.000 adeptos; e será importante Pochettino preservar craques como Kane, Eriksen e Alli, conseguindo os reforços certos, enquadrados com o modelo de jogo personalizado dos londrinos e que permitam à equipa aproximar-se dos rivais.

Destaques: Harry Kane, Christian Eriksen, Jan Vertonghen, Son Heung-Min, Ben Davies


Resultado de imagem para salah 2018 LIVERPOOL (4)

    Por 42 milhões (uma pechincha se considerarmos os valores dos negócios de Neymar, Coutinho ou Dembélé), o Liverpool contratou um dos principais candidatos à próxima Bola de Ouro. Mo Salah, entre ziguezagues com os defesas a caírem aos seus pés em sucessão, fixou um novo máximo de golos na Premier League jogada a 38 jogos - 32 golos. Nem Suárez nem Cristiano Ronaldo marcaram tanto.

    Discutindo com o Real Madrid o estatuto de equipa que melhor contra-ataca no mundo (será curioso e apaixonante acompanhar a final de Kiev), o Liverpool impressionou o mundo do futebol com Salah, Firmino e Mané, em excesso de velocidade e bem ao estilo Jürgen Klopp. O 2.º melhor ataque desta Premier League (84 golos) tem visto chegarem bons reforços também para o sector recuado (casos de van Dijk e Robertson) e é, quanto a nós, a equipa que nesta fase melhor se posiciona em termos de projecto desportivo para poder, tanto quanto possível dada a vantagem dos citizens, ombrear com os campeões nos próximos anos.
    No ano em que Coutinho rumou a Barcelona, Oxlade-Chamberlain encontrou-se de vez como médio interior e Alexander-Arnold foi uma agradável revelação.  

Destaques: Mohamed Salah, Roberto Firmino, Virgil van Dijk, Andrew Robertson, Sadio Mané


 CHELSEA (5)

    Era difícil Antonio Conte cometer mais disparates. Depois de uma época de estreia fantástica, que terminou com a conquista da Premier League, o treinador italiano decidiu desatar a dar tiros nos pés. Enviou um SMS a Diego Costa a dizer-lhe que já não contava com ele e, não satisfeito, aceitou vender Matic (quem, no seu perfeito juízo, é que desfaz uma dupla Kanté-Matic?) e logo a um rival. No primeiro ano em muitos em que John Terry não esteve presente no balneário, Conte perdeu o Norte e foi destruindo as hipóteses do Chelsea fazer uma boa época ao longo do tempo: não vincou a aposta em Morata, cujo início em Stamford Bridge deixou boas indicações, deixou a alternativa Batshuayi rumar a Dortmund (bom para o jogador, que mostrara bom rendimento quando chamado por Conte, e que não demorou a virar herói na Alemanha), e tornou David Luiz, um dos destaques na temporada passada, um dos melhores amigos do banco de suplentes.
    No meio de tantas asneiras, salvou-se o irrepreensível Azpilicueta, e alguns momentos do craque Hazard (ficará o belga no clube, não marcando o Chelsea presença na Champions?).
    Ao contrário do Top-4, em que todos os treinadores devem continuar, Abramovich pode promover uma troca de treinadores nos próximos tempos.

Destaques: César Azpilicueta, Eden Hazard, Marcos Alonso, Willian

Resultado de imagem para wenger bye 2018 ARSENAL (6)

    Estranha sensação esta de ficarmos com saudades de alguém que já deveria ter deixado de ser treinador do clube há uma ou duas épocas...
    Arsène Wenger é um senhor no futebol inglês. Custou ver Sir Alex Ferguson a deixar de ser o treinador do Manchester United, e custa igualmente ver Wenger a despedir-se daquela que foi a sua casa durante 22 anos. O adeus do francês dá à época de 2017/ 18 um toque especial, mas a temporada em si de especial não teve nada.
    A anos-luz da concorrência - o Arsenal fecha o campeonato a 7 pontos do Chelsea, mas também a 7 pontos do Burnley -, os gunners tiveram poucos destaques ao longo da época, e encontraram no Atlético Madrid uma parede que tornou impossível o acesso à Champions por via da Liga Europa. Özil voltou a irritar-nos (tanta magia, técnica, visão e genialidade num jogador tão pouco focado e ambicioso), Cech custou pontos em vez de os dar, interessando pela positiva referir o impacto dos reforços de Inverno, Mkhitaryan e Aubameyang. Dois craques, amigos em Dortmund que se reencontram agora, e que poderão ser peças-chave para o próximo treinador do clube. Mal podemos esperar para ver uma época inteira de Auba (10 golos em 13 jogos).  

Destaques: Nacho Monreal, Pierre-Emerick Aubameyang, Aaron Ramsey, Shkodran Mustafi

 BURNLEY (7)

    Na antevisão que fizemos desta edição, apontámos o Burnley à desida. Escrevemos nós "sem reforços, não há milagres". Desculpa-nos, Sean Dyche, há milagres.
    O Burnley surpreendeu Inglaterra e virou equipa-sensação ao conseguir um impensável 7.º lugar com um plantel que fazia prever uma classificação uns 10 lugares abaixo. Mais: Dyche viu o seu guarda-redes e capitão de equipa, Tom Heaton, lesionar-se à quarta jornada, perdeu um dos seus jogadores mais criativos (Robbie Brady) também por lesão à jornada 15, e antes disto tudo não fora ao mercado para encontrar o sucessor de Michael Keane, vendido ao Everton. As soluções estavam já no clube - Nick Pope e James Tarkowski. E que épocas fizeram ambos!
    Com um treinador capaz de espremer tudo de cada jogador, o Burnley construiu uma equipa segura e competitiva, com uma defesa extraordinariamente sólida. Pope, Mee, Tarkowski, Lowton e Ward foram todos destaques atrás, e Chris Wood marcou uns simpáticos 10 golo. Temos alguma curiosidade para ver que plantel Dyche terá em 18-19 e como será o comportamento do clube na sua primeira experiência internacional de sempre na Liga Europa.

Destaques: James Tarkowski, Nick Pope, Ben Mee, Matt Lowton, Jack Cork

 EVERTON (8)

    Só as terríveis épocas de Chelsea e Arsenal desviam os olhares da desapontante temporada do clube de Goodison Park. Num defeso inteligente e activo, os toffees tinham vendido Lukaku, canalizando o dinheiro da venda do goleador belga para vários reforços acertados - Sigurdsson, Rooney, Pickford, Keane, Klaassen e Sandro.
    Mas nada correu bem. O conto de fadas do regressado Rooney durou meia época (nas primeiras 18 jornadas tinha 10 golos, mas depois disso não marcou mais), Sigurdsson nunca se afirmou como a figura de proa que pensávamos que iria ser; Klaassen actuou apenas 248 minutos e Sandro 276. À parte de jogadores que não renderam o esperado e outros que não tiveram oportunidades suficientes, ao clube que ainda acrescentou Tosun e Walcott ao elenco no mercado de Inverno pareceu sempre faltar velocidade e capacidade de desequilíbrio: Bolasie só voltou no final da época, adquirir um craque como Zaha teria dado um jeitaço, e mesmo um talento com as características que estavam em falta como Lookman foi atirado para a Alemanha (onde marcou 5 golos em 11 jogos pelo Leipzig).
    Passar de Koeman para Allardyce foi descer um degrau, isto numa época em que o Everton queria intrometer-se no Top-6 mas, bem vistas as coisas, acabou a apenas 9 pontos do 15.º classificado.
    Próxima época: Marco Silva?

Destaques: Jordan Pickford, Michael Keane, Gylfi Sigurdsson, Idrissa Gueye


 LEICESTER CITY (9)

    O poema de Shakespeare não foi eterno e à jornada 10 já era o ex-Southampton, Claude Puel, a orientar os foxes. No geral, a época do Leicester City correspondeu ao esperado, fazendo alguma impressão como é que a equipa termina a Premier abaixo do Everton quando pareceu sempre superior e apresentou melhores ideias.
    Mahrez voltou a estar em grande (12 golos, 10 assistências), mesmo com uma "birra" por ter sido vetada a sua transferência para o Manchester City a meio da época; Jamie Vardy, que marca aos grandes ingleses como ninguém, chegou aos 20 golos; Maguire teve o impacto que esperávamos, Iheanacho nem por isso.
     Os campeões de 2015/ 16, clube no qual para o ano Adrien Silva terá a companhia de Ricardo Pereira, subiram três lugares na tabela em relação ao ano anterior. Para a proxima fica uma dúvida, com um peso gigante: continuarão, desta vez, Mahrez e Vardy?

Destaques: Riyad Mahrez, Jamie Vardy, Harry Maguire, Wilfred Ndidi, Kasper Schmeichel

 NEWCASTLE (10)

    Depois de vencer o Championship em 2016/ 17, o Newcastle de Rafa Benítez não deslumbrou no futebol praticado mas jamais esteve na discussão pela manutenção. Consistente e consciente das suas forças e fraquezas, o clube do Norte de Inglaterra marcou poucos golos (39 golos em 38 jogos), mas sofreu menos que por exemplo Arsenal, Everton e Leicester.
    Lascelles, Ayoze (o final de época deixou indicações que 2018/ 19 pode ser um ano importante para o espanhol de 24 anos), Ritchie e Shelvey foram os principais destaques numa equipa em que Slimani não agarrou nova oportunidade em Inglaterra, e em que a baliza esteve entregue a três diferentes guardiões (Elliot, Darlow e Dubravka) ao longo da temporada.
    Se a direcção e os adeptos querem ver os magpies a repetirem ou melhorarem a classificação, convém que Benítez tenha uns 3 ou 4 reforços de qualidade.

Destaques: Jamaal Lascelles, Ayoze, Matt Ritchie, Jonjo Shelvey

 CRYSTAL PALACE (11)

    A Premier League começou a 12 de Agosto e no dia 10 de Setembro o primeiro treinador do Crystal Palace esta época fazia o seu último jogo no comando da equipa. Frank de Boer durou 4 jogos. Um recorde difícil de bater, com 100% de derrotas na prova.
     A solução encontrada pelo clube? O ex-seleccionador inglês, Roy Hodgson, com 70 anos e passagens pelo Inter, Liverpool, Finlândia, Fulham, WBA, Udinese, Copenhaga, Blackburn ou Emirados Árabes Unidos. Admitimos que a contratação do veterano nos deixou bastante reticentes, mas a recta final do Palace dissipou quaisquer dúvidas quanto à determinação dos jogadores em garantir a manutenção. À jornada 30 o clube morava nos lugares de descida, com 27 pontos, mas 5 vitórias nos últimos 8 jogos atiraram a equipa do 18.º para o 11.º lugar, rematando a Premier com 44 pontos (igual registo pontual do Newcastle).
    Nestes oito jogos (vitórias diante de Huddersfield, Brighton, Leicester, Stoke e WBA, empates diante de Bournemouth e Watford, e derrota pela margem mínima com o Liverpool) sobressaiu uma vez mais Wilfried Zaha, que aos 25 anos já merece outros palcos. 

Destaques: Wilfried Zaha, Luka Milivojevic, Loftus-Cheek, van Aaanholt


 BOURNEMOUTH (12)

    O Bournemouth, equipa orientada por um dos melhores treinadores ingleses da actualidade, Eddie Howe (40 anos), é sinónimo de regularidade. Quando em 2015/ 16 os cherries ascenderam pela 1.ª vez à Premier League, terminaram o campeonato em 16.º e com 42 pontos; o ano passado, 9.º lugar com 46 pontos; e este ano 12.º com 44 pontos.
     Com vários rostos que integram a equipa desde os escalões mais baixos, nesta ascensão meteórica (em 2012 o Bournemouth estava no terceiro escalão e já tinha nos seus quadros Cook, Francis, Arter, Daniels ou Pugh), nenhum jogador esteve esta época num nível digno de destaque, mas o colectivo voltou a cumprir. Joshua King, um dos most improved players de 2016/ 17 passou, por exemplo, de uns fantásticos 16 golos marcados para uns mais comuns 8 golos.
    Equipa fiável embora com recursos limitados, continua a precisar de uns bons reforços caso queira dar um salto em termos qualitativos. No entanto, o mais importante para o clube será mesmo garantir a continuidade de Eddie Howe.

Destaques: Callum Wilson, Junior Stanislas, Nathan Aké, Andrew Surman

 WEST HAM (13)

    A época começou com Bilic, terminou com Moyes. Começou com José Mourinho a afirmar que o West Ham se estava a reforçar para atacar o título, terminou com os hammers em 13.º lugar a seis pontos do 17.º classificado.
    Uma das duas piores defesas do campeonato (68 golos sofridos, tal como o Stoke), o West Ham tinha obrigação de fazer muito mais. É indiscutível a maior qualidade do seu plantel quando comparado com equipas como Bournemouth, Newcastle, Crystal Palace ou Burnley.
    Na próxima época já está confirmado o chileno e experiente Manuel Pellegrini como novo treinador, e desta destaca-se quase só a fera irreverente Marko Arnautovic. O austríaco, adaptado por Moyes a falso 9 e várias vezes bem acompanhado por Lanzini, foi a figura nesta equipa-desilusão em que o nosso João Mário fez meia época.

Destaques: Marko Arnautovic, Manuel Lanzini, Aaron Cresswell

 WATFORD (14)

    Houve Premier League enquanto houve Marco Silva. Tal como já fizera no Hull City, o treinador português não demorou a dotar a equipa de uma confiança e intensidade notáveis, notando-se uma significativa melhoria no futebol praticado pelos hornets. Foi particularmente sintomático do impacto de Marco Silva a capacidade que a equipa revelou ainda em lutar até ao fim: nas primeiras jornadas, contra Arsenal, West Brom, Swansea e Liverpool, o Watford garantiu alterações no resultado a seu favor - alcançando vitórias ou empates - sempre para lá dos 90 minutos.
    Quando MS abandonou o clube, o Watford estava em 10.º lugar e a apenas seis pontos do sétimo. Supostamente, terá sido o Everton a desestabilizar a cabeça do português, conjugando-se essa pressão com um período entre a jornada 14 e a 24 em que a equipa perdeu 8 jogos em 11. Javi Gracia foi o substituto encontrado (ganhou 4 jogos em 15), mas os jogadores nunca mais voltaram a revelar a mesma chama: Doucouré (extraordinária evolução como jogador) baixou o nível, num decréscimo que foi mais evidente do que em qualquer outro atleta em Richarlison.

Destaques: Abdoulaye Doucouré, Richarlison, Tom Cleverley, Roberto Pereyra

 BRIGHTON (15)

    Não é frequente, mas em 2017/ 18 as três equipas que tinham acabado de chegar à Premier League, garantiram todas a manutenção. Newcastle, Brighton e Huddersfield foram exemplos de estabilidade, mantendo os seus técnicos toda a época e encarando cada jogo com total profissionalismo e consciência da sua importância.
    O trabalho de Chris Hughton no Brighton quase passa despercebido, mas o maior elogio é que o Brighton nunca esteve envolvido na luta dos aflitos. Num plantel curto mas bem potenciado, destacaram-se os golos de Glenn Murray, a dupla Dunk-Duffy no centro da defesa, com Knockaert (melhor jogador do Championship na época passada) a desiludir e Solly March a merecer mais minutos. No entanto, os maiores elogios devem ir para dois reforços: o australiano Matt Ryan (só Butland e Fabianski fizeram mais defesas do que ele) defendeu duas grandes penalidades ao longo da temporada e deu pontos; e Pascal Groß, que foi um dos achados da época. Contratado por 3 milhões de euros, o médio alemão retribuiu a confiança depositada com 7 golos e 8 assistências. Só surpreendeu os mais desatentos uma vez que Groß fora em 2016/ 17 o jogador com mais oportunidades de golo criadas na Bundesliga.

Destaques: Pascal Groß, Mathew Ryan, Glenn Murray, Shane Duffy

 HUDDERSFIELD (16)

    O amigo de Klopp, David Wagner, conseguiu o seu objectivo. Com aquele que era muito provavelmente o plantel mais frágil desta Premier League, o Huddersfield escapou àquele que parecia ser o seu destino (descer) e fê-lo de forma invulgar. A equipa não teve, como habitualmente acontece nestas equipas pequenas, um jogador-abono de família - Mounié marcou 7 golos, Depoitre marcou 6 e nenhum completou sequer 2.000 minutos, Mooy começou bem a época mas terminou-a com uns modestos 4 golos e 3 assistências.
    No meio de tudo isto, numa época que começou com duas vitórias nas duas primeiras jornadas, valeu a defesa do Huddersfield - Lössl foi um dos 8 melhores guarda-redes da prova, e tanto Schindler como Zanka estiveram intransponíveis em vários jogos.

Destaques: Christopher Schindler, Jonas Lössl, Aaron Mooy, Zanka

 SOUTHAMPTON (17)

    Pochettino, Koeman, Puel, Pellegrino, Hughes. O Southampton, equipa com a qual simpatizamos e que tem sido nos últimos anos a principal base de recrutamento do Liverpool, parece um pouco perdido. Depois de oitavo, sétimo, sexto e oitavo nas 4 épocas anteriores, os saints escaparam por um fio à descida (3 pontos acima do Swansea).
    Pessoalmente, Mark Hughes não nos parece o técnico adequado para o clube; e, depois de uma época em que o dinheiro de van Dijk não foi aplicado, convém que a equipa sulista invista para voltar ao patamar a que nos habituou. Com Lemina, Bertrand e Ward-Prowse a serem os jogadores mais constantes desta vez, faz alguma confusão ver elementos como Boufal ou Austin a ficarem tão aquém do que podem dar. Veremos como reage o clube a este susto, e que conclusões retira deste falhanço.

Destaques: Mario Lemina, Ryan Bertrand, James Ward-Prowse, Dusan Tadic

 SWANSEA (18)

    Num adeus que não surpreende - longe vão os Swanseas de Michu e Wilfried Bony, e desta vez já não houve Sigurdsson para jogar por toda a equipa -, o Swansea piorou a sua classificação de 2016/ 17 (15.º lugar) e despede-se mesmo da Premier League. De resto, os cisnes poderão ter dificuldades em regressar ao primeiro escalão uma vez que apresentam actualmente um elenco inferior a várias equipas do competitivo Championship.
     No País de Gales, país de que Renato Sanches (acredita em ti, rapaz!) não guardará boas memórias, a época começou com Paul Clement mas à jornada 21 já era Carlos Carvalhal quem orientava os swans. O português, marcante no humor, nas metáforas e nos pastéis de nata, teve um impacto significativo nas primeiras 9 jornadas - venceu Liverpool e Arsenal, tendo antes derrotado o compatriota Marco Silva na estreia -, mas o final foi mau demais. Se como acima dissemos o Crystal Palace mostrou na recta final a sua garra e vontade de sobreviver, o Swansea rendeu-se e somou 5 derrotas nas últimas cinco jornadas. Não fosse o polaco Fabianski, uma das figuras desta edição nas balizas (2.º com mais defesas, e ninguém defendeu tantos penalties como ele - 3), e a descida até teria sido oficializada mais cedo. Com 28 golos marcados, o Swansea foi o pior ataque da prova a par do Huddersfield.

Destaques: Lukasz Fabianski, Alfie Mawson, Jordan Ayew

 STOKE (19)

    Honestamente, não nos custa muito ver Stoke e WBA a descer. É verdade que cai o ditado But can he do it on a cold rainy night in Stoke? mas, se por um lado Stoke e West Brom representam ambos a velha tradição inglesa, com um futebol mais directo e muito físico, por outro lado esta descida dita a total vitória do paradigma multicultural no futebol inglês, em que acima de tudo vinga o bom futebol e os treinadores e jogadores que inovam, crescem e melhor se adaptam.
    Despedir Mark Hughes, que estava no clube desde 2013, revelou-se um erro: Hughes deixou o clube em 18.º lugar à jornada 22, mas nessa fase a distância para o 11.º lugar era de apenas 4 pontos; o clube precipitou-se, e o sucessor Paul Lambert conseguiu apenas duas vitórias em 15 jogos. Venceu o primeiro jogo, e o último.
     Boas notícias para os clubes da Premier League, que têm em Butland, Joe Allen ou Shaqiri jogadores bastante interessantes para adquirir.

Destaques: Jack Butland, Xherdan Shaqiri, Joe Allen, Mame Biram Diouf

 WEST BROMWICH (20)

    No início da época escrevemos: "Tony Pulis não vai ao fundo. É uma das mais velhas máximas da Premier League". Pois bem, o WBA despediu Pulis, e afundou-se.
    Falar desta época do último classificado West Brom é falar de três períodos distintos, de acordo com os três técnicos que o clube teve ao longo da época: Tony Pulis, Alan Pardew e Darren Moore.
    Pulis durou até à jornada 12 e, curiosidade das curiosidades, quando foi despachado o clube nem estava ainda na zona de descida. Depois veio Pardew, e tudo destruiu. O ex-treinador de Newcastle e Crystal Palace conseguiu a proeza de ganhar apenas 1 jogo em 18 jornadas. Pouco havia para salvar. Mas o adjunto promovido a interino, o jamaicano Darren Moore, ainda ousou sonhar: nas seis jornadas finais, venceu 3 jogos e perdeu apenas 1, mas não chegou. Adeus, West Brom.
     
Destaques: Ben Foster, Jake Livermore, Craig Dawson



por Miguel Pontares e Tiago Moreira