29 de maio de 2017

Balanço Final - Premier League 16/ 17

  Barclays Premier League - Depois do milagre, depois do Impossível, voltámos à realidade. No campeonato em que não há vencedores antecipados (nos últimos 8 anos nunca o campeão conseguiu renovar o seu título) e em que todos os jogos são disputados nos limites, num ritmo alucinante com tanto de louco como de apaixonante, os favoritos voltaram a instalar-se no topo da classificação.
    Com Manchester e o duelo entre Guardiola e Mourinho a aguçar o interesse dos adeptos, acabou por ser outro recém-chegado ao seu clube, Antonio Conte, a chegar, ver, transformar e vencer. Numa Premier League marcada pela sua multiculturalidade e pelas diferentes filosofias de alguns dos melhores treinadores da actualidade, o mérito do treinador italiano esteve em encontrar a fórmula perfeita (percebeu rapidamente a Liga e avaliou rapidamente os jogadores que tinha em mãos) adaptando-se, mas fiel a alguns dos seus princípios de sempre - equilíbrio, intensidade, compromisso total e versatilidade de algumas peças.
    Num ano em que os ingleses voltaram a falhar na Champions (curiosamente acabou por ser o Leicester a equipa a chegar mais longe, atingindo os quartos-de-final), o Manchester United conquistou a Liga Europa, colocando termo a um período de seca a nível de conquistas europeias por britânicos que durava desde 2013 quando o Chelsea derrotou o Benfica em Amesterdão. Na competição que aqui nos traz, a única verdadeira oposição que o Chelsea encontrou foi o Tottenham (pelo 2.º ano consecutivo, a equipa de Pochettino foi aquela que praticou o futebol mais aprazível em terras de Sua Majestade), o Manchester City teve altos e baixos, permitindo a Guardiola perceber que nem tudo na sua carreira são favas contadas, e entre Liverpool, Arsenal e Manchester United, coube aos gunners falhar o "objectivo Champions" pela primeira vez desde que Wenger orienta o clube londrino. Bournemouth, West Brom e Burnley foram as equipas que nos surpreenderam pela positiva, ao contrário do campeão Leicester, do West Ham e do Manchester United (é certo que os red devils venceram a Liga Europa, a Taça da Liga e a Supertaça, mas isso não apaga o 6.º lugar) e o Hull City, Middlesbrough e Sunderland formam o trio que desce ao Championship, com Newcastle, Brighton e Huddersfield a ocuparem as suas vagas.
    Acompanhem-nos então numa viagem e análise à época das 20 equipas da Premier League 2016/ 17, num raciocínio que visa sistematizar várias ideias, ponderar o que correu bem, o que correu mal, quem brilhou ou quem desiludiu.


 CHELSEA (1)

    Quando há vários meses fizemos a Antevisão desta Premier League, num artigo em que apontávamos o Chelsea ao 3.º lugar, previmos: "a equipa deve apresentar em campo maior harmonia, maior objectividade e intensidade na procura do golo, com transições bem trabalhadas mas um equilíbrio constante graças a um modelo em que os jogadores se mantêm numa estrutura compacta". E, de facto, foi assim o Chelsea de Antonio Conte.
    Muito do sucesso do campeão, recordista na medida em que nunca uma equipa tinha vencido 30 dos 38 jogos de Premier League, fez-se durante uma sequência de 13 vitórias consecutivas (1 de Outubro até 31 de Dezembro, com dez jogos desse período sem qualquer golo sofrido) que serviu para que os blues disparassem na classificação em termos de pontos, ganhando margem de erro e confiança. O 3-4-3 de Conte, sistema que nasceu depois das derrotas frente a Liverpool e Arsenal, revelou-se perfeito dadas as características dos jogadores ao dispor do técnico italiano, e veio a marcar uma pequena tendência em Inglaterra, com vários treinadores a experimentarem posteriormente os benefícios de uma defesa a três.
    N'Golo Kanté foi a principal figura da equipa, sagrando-se novamente campeão e voltando a contribuir de forma decisiva para o equilíbrio dos seus, conseguindo com a sua leitura de jogo, intensidade, simplicidade de processos e raça asfixiar os adversários e aumentar o oxigénio dos colegas. O 3-4-3 à frente do "luvas de ouro" Courtois teve por base um trio sólido (Cahill ao seu melhor nível, David Luiz a calar muita gente e Azpilicueta a roçar a perfeição), dois dínamos nos flancos (a entrada de Marcos Alonso no 11 coincidou com a metamorfose táctica que marcou a época do Chelsea, e Moses encontrou a sua praia a ala-direito) e um miolo de ferro no qual Kanté teve sobretudo Matic ao seu lado, contando ocasionalmente com Fàbregas e com a suprema capacidade do espanhol em encontrar linhas de passe e passar à distância. Tudo isto soltou a estrela da companhia, Eden Hazard (16 golos e 5 assistências) para uma temporada sempre num nível bastante alto, e Diego Costa que, focado e a saber dosear a sua agressividade, foi absolutamente determinante (talvez o melhor jogador da Premier League na 1.ª volta) com golos e muita luta.
    A inexistência de competições europeias contribuiu também para o sucesso deste Chelsea, mantendo-se o grupo mais fresco e tendo ainda a sorte de terem existido poucas lesões. No final, foi indiscutível a justiça do 1.º lugar, numa equipa que fez jus a essa palavra, e que demonstrou sempre enorme organização e união, sabendo lidar com a pressão, sem vacilar na Hora H.

Destaques: N'Golo Kanté, Eden Hazard, Diego Costa, David Luiz, Azpilicueta

 TOTTENHAM (2)
   
    Pelo segundo ano consecutivo, o Tottenham é a equipa em Inglaterra com maior diferença entre golos marcados e sofridos. Pelo segundo ano consecutivo, o Tottenham é a equipa que melhor futebol pratica na Premier League. Falta ganhar.
    Os spurs, depois de um 2015/ 16 com futebol de luxo mas uma recta final em queda livre, voltaram a deliciar os adeptos com um futebol de equipa grande (controlo total do jogo, muita dinâmica, pressão alta, golos bonitos, excelente entrosamento no ataque, e muito dedo de Pochettino visível no campo) e ficaram um passo mais perto do título. Com 86 golos marcados (melhor ataque), 26 golos sofridos (melhor defesa) e apenas 4 derrotas (nenhuma equipa perdeu tão pouco), a juventude ao serviço do treinador argentino evoluiu, e caso o Tottenham consiga manter o núcleo duro actual, o título que foge desde 1960/ 61 pode estar próximo.
    Invictos em White Hart Lane (única equipa que não perdeu qualquer jogo em casa), tememos que os spurs possam sofrer com o facto de em 2017/ 18, num ano em que terão melhores odds para serem campeões, existir uma mudança de morada: o Tottenham disputará todos os seus jogos caseiros em Wembley, enquanto White Hart Lane está em obras. Tal coisa pode funcionar contra ou a favor, mas a teoria diz que pode ser uma adversidade para a equipa de um dos melhores treinadores do mundo, Mauricio Pochettino, alguém que finalmente começa a ter o devido crédito.
    Nesta temporada, o Tottenham alternou entre o seu tradicional 4-2-3-1 e um 3-4-2-1, trabalhando uma ideia plástica ao longo de 90 minutos, e acabando por vezes por utilizar dois sistemas diferentes no mesmo jogo. A riqueza táctica deste Tottenham, "mandão" em quase todos os jogos em que entra em campo, está alicerçada em vários factores: a melhor defesa em Inglaterra (Alderweireld-Vertonghen são a melhor dupla, e nenhuma equipa tem melhores laterais do que Walker/ Rose), músculo no centro de jogo (Dembélé, Dier ou Wanyama), muita criatividade, técnica e boas combinações (Eriksen, Dele Alli e Son Heung-Min) e, claro, um grande matador chamado Harry Kane. O melhor marcador do campeonato, com 29 golos, 7 deles marcados nas últimas duas jornadas.
    Pelo gozo que dá ver os miúdos de Pochettino jogar, torcemos para que os spurs consigam manter quase toda a gente (seria fantástico verificar o crescimento desta equipa nos próximos 5 anos sem perder Kane, Alli, Eriksen, etc.), ganhando soluções e plantel durante o próximo defeso. Uma coisa é certa: no Norte de Londres há um projecto sustentado, com uma identidade bem definida e craques capazes de marcar a próxima década no futebol britânico.

Destaques: Hary Kane, Dele Alli, Christian Eriksen, Moussa Dembélé, Son Heung-Min

 MANCHESTER CITY (3)

    
Entre Guardiola e Conte houve nesta temporada uma diferença, que fez toda a diferença. Chegados a uma realidade nova, dois dos melhores treinadores do planeta agiram de modo diferente - Antonio Conte compreendeu mais rapidamente os tempos e a cultura do futebol inglês, adaptando-se (e acabando depois por levar várias equipas a adoptarem um esqueleto semelhante ao do seu Chelsea), enquanto que Pep Guardiola procurou implementar as suas ideias e a sua filosofia, acreditando que seria capaz de revolucionar a Premier League, adaptando-se a Liga ao seu Manchester City de sonho. Não aconteceu, com Pep a ignorar por exemplo a importância das segundas bolas em Inglaterra. Mas estamos convictos de que o treinador espanhol aprendeu muito em 2016/ 17, e surgirá fortíssimo na próxima época.
     A fechar o pódio, o novo clube de Bernardo Silva fraquejou em vários momentos, faltando consistência (Guardiola fartou-se de experimentar, mudou imenso o seu onze, fundamentalmente porque como diz Henry o facto de saber demais por vezes prejudica-o) e um balneário mais coeso e unido. O visionário que por vezes inventa e complica o simples teve sempre uma equipa desequilibrada, com o brutal talento no ataque a não equivaler às opções de qualidade reduzida atrás (ainda por cima, Claudio Bravo foi uma desilusão, e Kompany passou muito tempo lesionado).
    Tudo somado, foi uma temporada de aprendizagem e diagnóstico para Guardiola, que tem um Verão para limpar a casa e reforçar posições-chave (laterais e guarda-redes, nomeadamente), mas que terá ficado agradado com o rendimento de De Bruyne e do mago David Silva, com a generalidade da época de Agüero e com dois diamantes chamados Sané e Gabriel Jesus.
    A revolução de Guardiola continua em marcha, e terá novos capítulos num ano em que já não haverá desculpas para o espanhol.

Destaques: Kevin De Bruyne, David Silva, Kun Agüero, Leroy Sané, Gabriel Jesus

 LIVERPOOL (4)

    Ainda não foi este ano que os adeptos do Liverpool puderam quebrar o jejum no que toca à conquista do campeonato. Recordamos que os reds nunca conquistaram a primeira divisão inglesa no formato Premier League, com o 1.º lugar a fugir desde 1989/ 90. 

    Mas esta temporada deve ser vista como um passo na direcção certa. Orientado pelo alemão Jürgen Klopp (primeira época completa no clube), este Liverpool já está mais perto daquilo que o alto, loiro e louco técnico pretende - futebol de risco, transições mortíferas, exigindo uma disponibilidade física quase infinita aos seus jogadores. Extremamente bem nos jogos grandes (vitória e empate contra o Chelsea, vitória e empate contra o Tottenham, vitória e empate contra o City, duas vitórias contra o Arsenal e dois empates contra o United), o clube de Anfield teve pois alguns deslizes contra clubes de menor dimensão, que acabaram por distanciar os reds da regularidade e qualidade de Chelsea e Tottenham.
     Notou-se uma evidente evolução no futebol praticado, com os reforços Sadio Mané e Wijnaldum a encaixarem na perfeição na filosofia do treinador; mas há aspectos a corrigir, nomeadamente na defesa (James Milner, toda a época adaptado a lateral-esquerdo, foi um dos melhores do sector). No ataque, a magia de Coutinho (não o deixem escapar, por favor) e a velocidade e frieza de Mané fizeram destes 2 craques as grandes estrelas, com o papa-quilómetros Lallana a revelar-se também peça fulcral.
    O 4.º lugar era algo que já perspectivávamos no início da temporada. O ano era não só de implementação mas também de consolidação de processos, e assim foi. A base está construída e com alguns retoques no plantel (Klopp costuma ter bastante bom gosto a contratar) acreditamos que a equipa de Anfield regresse para 17/ 18 com um potencial maior e à procura de troféus. É, ainda, de saudar o regresso do Liverpool à Champions League, ainda que haja um playoff para ultrapassar.

Destaques: Coutinho, Sadio Mané, Adam Lallana, Emre Can, Wijnaldum

 ARSENAL (5)

    Apesar de terem terminado em 2.º lugar na época passada, bem que avisámos (apontámos os gunners ao sexto lugar, graças à elevada competitividade, aos reforços da concorrência e à falta de ambição do clube) que este ano poderia ser crítico para os londrinos. Depois de tantos anos na Champions League - Wenger conseguiu em 2015/ 16 a 20.ª presença consecutiva no Top-4 -, chegou finalmente o momento em que o Arsenal desce à Liga Europa, por via do 5.º lugar deste ano.
    O culpado está identificado, a paciência esgotou-se (embora a conquista da FA Cup tenha aumentado o oxigénio ao técnico francês) e Arsène Wenger tem a cabeça a prémio. "Wenger Out" é o mote seguido pela grande maioria arsenalista, expressão espalhada em dezenas de cartazes no Emirates, e que percorre a Internet em forma de hashtag. No nosso entender, o melhor para todas as partes seria dar por terminada esta Era Wenger e dar início a um novo ciclo, reinventando o clube.
    Embora haja necessidade de reforçar estrategicamente algumas posições (desde van Persie que o Arsenal precisa de um avançado ao nível do restante elenco), o que os actuais craques precisam é de um novo desafio, de um abanão que faça nascer nova mentalidade - embora seja um símbolo do clube e tenha ajudado o clube a conquistar muita coisa, é normal associar-se hoje Wenger a uma certa monotonia e conformismo. A Direcção, sempre numa postura "está bom assim, isto chega", tem-se acomodado e adiado o inevitável, afastando o clube dos títulos e hipotecando o crescimento deste Arsenal, com tudo isto a reflectir-se animicamente nos jogadores.
    Compreende-se por isso a vontade de Alexis Sánchez (24 golos e 10 assistências nesta Premier League, e um exemplar caso de fome de sucesso) em sair para clubes com mentalidade vencedora e ambição, que não se satisfaçam com um Suficiente. A continuidade de Sánchez e Özil (o alemão tem talento para render muito mais) não é certa, e todo o defeso se decidirá em função disso, mas a melhor forma de os segurar pode passar pelo nascimento de um novo projecto, com novo treinador.
    Bem se diz que é difícil separarmo-nos de alguém com quem vivemos tantos momentos bons, mas por vezes a mudança tem que acontecer para voltarmos a ser felizes. É o futuro do Arsenal que está em causa, e a Direcção irá definir o desfecho desta novela.

Destaques: Alexis Sánchez, Laurent Koscielny, Mesut Özil, Olivier Giroud, Monreal

 MANCHESTER UNITED (6)

    Para nós, a grande desilusão da temporada. Depois do grande investimento feito para satisfazer os pedidos de José Mourinho, os red devils tinham obrigação de vencer a Premier, ou no mínimo ficar perto disso. Lembram-se quanto custou Pogba? Mais de 100 Milhões! Mourinho teve todos os ingredientes para uma temporada de sonho, podendo reavivar a sua velha rivalidade com Pep Guardiola (curiosamente, os rivais de Manchester desapontaram ambos, testemunhando a superioridade de Chelsea e Tottenham), mas alguma teimosia (Depay nunca foi aposta, acabando vendido; Mkhitaryan demorou imenso a entrar nas escolhas; Martial precisava de ter minutos para não estagnar) e várias lesões acabaram por fazer deste United uma equipa com pouca chama e encanto, previsível e limitada.
    É impossível ignorar os 15 (quinze!) empates, um recorde do clube na Premier League, numa época em que nem Stoke nem Middlesbrough empataram tanto, e é bastante difícil explicar a gritante ineficácia e seca de golos da equipa de Manchester quando se tem Pogba, Mkhitaryan, Martial, Rooney, Rashford e Zlatan Ibrahimovic. Com 54 golos os red devils marcaram menos golos do que o 9.º classificado Bournemouth, e quase tantos como o Crystal Palace. O ataque, carregado essencialmente por Zlatan aos 35 anos, contrastou com o bom desempenho defensivo - segunda melhor defesa, com 29 golos sofridos.
    As 3 conquistas da época (Community Shield, Taça da Liga e Liga Europa) não apagam o sexto lugar. A vitória europeia, numa competição que Mourinho tanto desdenhou ao longo da sua carreira, acabou por garantir o objectivo Champions, amenizando aquilo que seria uma época trágica para o histórico colosso inglês. Com franqueza, estamos a falar do clube com mais títulos em Inglaterra, que com Sir Alex Ferguson no comando nunca terminou abaixo do 3.º lugar.
    O Manchester United tem que saber estar à altura da sua História, mas para já José Mourinho sai cansado para férias, dizendo que esta foi a temporada mais difícil da carreira. A versão 2017/ 18 do United terá certamente outro pedigree, veremos se terá ou não De Gea entre os postes, e preparem-se para ver o United acompanhar o investimento louco do City (a transferência de Bernardo Silva para o City pode-se considerar a primeira derrota do Verão para o United).

Destaques: Zlatan Ibrahimovic, Ander Herrera, Antonio Valencia, De Gea, Paul Pogba

 EVERTON (7)

    O facto dos toffees terem ficado logo abaixo dos 6 candidatos ao título, aproveitando o decréscimo em termos de rendimento de Leicester, West Ham e Southampton, chega para afirmar que a época do Everton correspondeu às expectativas colocadas para este Ano 1 de Ronald Koeman. O holandês, depois de um excelente trabalho num concorrente directo, acabou por "roubar" o estatuto que o Southampton tinha de primeiro clube pós-grandes. Basta verificar que o Everton vinha de duas temporadas em 11.º, num período em que os saints de Koeman tinham terminado em 7.º e 6.º lugar.
    Falar do 2016/ 17 do Everton é, invariavelmente, falar de Romelu Lukaku. O possante avançado belga, qual força da natureza, atingiu o seu novo máximo individual na Premier League - 25 golos - e levou o futebol da equipa para outro patamar. Aos 24 anos, esta deve ter sido a última temporada do belga no clube, e muito contribuiu Lukaku para fazer de Goodison Park o palco da 4.ª equipa com melhor registo caseiro.
    O apuramento para as competições europeias (Liga Europa) foi o prémio final, numa edição em que Lukaku foi o homem-golo, Gueye uma espécie de Kanté e Tom Davies uma revelação. Menos sorte tiveram Bolasie e Coleman, elementos afectados ao longo da temporada por lesões graves e em relação aos quais fazemos votos de céleres recuperações.

Destaques: Romelu Lukaku, Seamus Coleman, Idrissa Gueye, Ross Barkley, Tom Davies

 SOUTHAMPTON (8)

    Depois de Pochettino e Koeman, o Southampton apostou em Claude Puel, mas o francês - embora não tenha propriamente fracassado - não conseguiu estar ao nível dos antecessores, fazendo dos saints uma equipa razoável defensivamente mas tímida no ataque. Pessoalmente, não nos desagradava que o clube encontrasse novo homem do leme para o projecto: Marco Silva já está comprometido com o Watford, mas Eddie Howe poderia significar o casamento perfeito.
    A irregularidade dos saints, cuja performance defensiva deve ser elogiada dado o contexto - o capitão José Fonte saiu para o West Ham, e o melhor jogador da equipa, o central holandês Virgil van Dijk, falhou a segunda metade da época. Ainda assim, notou-se uma dificuldade de Puel em encontrar o seu onze-base, sem nunca identificar o melhor trio de ataque. Austin (934 minutos) voltou a acumular lesões, Jay Rodriguez (893 min) só esteve disponível a espaços, e mesmo Boufal e Shane Long nunca se afirmaram como indiscutíveis. Para além da super-época de van Dijk (qualquer equipa do Top-7 ganharia em contratá-lo) até este se lesionar, deve-se destacar o crescimento de Romeu e Redmond como atletas, a magia que o sérvio Tadic empresta ao jogo da equipa, e ainda o impacto imediato que Gabbiadini teve quando contratado ao Nápoles. Temos particular curiosidade para acompanhar a próxima época do italiano.

Destaques: Virgil van Dijk, Oriol Romeu, Dusan Tadic, Nathan Redmond, Ryan Bertrand

 BOURNEMOUTH (9)

    Vamos lá a uma pequena aula de História. Nesta que é a segunda vida do jovem Eddie Howe no clube importa relembrar que os cherries foram vice-campeões da League One em 2012/ 13, em 2013/ 14 ficaram em 10.º no Championship, em 2014/ 15 venceram o Championship, e na época passada - em estreia absoluta na Premier League - a equipa ficou no 16.º lugar. E há sete anos estava o Bournemouth na League Two (a quarta divisão inglesa).
    Sempre a subir. O Bournemouth tem progredido de forma fascinante, sem nunca abdicar de jogar bonito, mérito de Howe, alguém que já merecia outro patamar, embora também seja tentador vê-lo a continuar a fazer evoluir o clube do Sul de Inglaterra. Aliás, o que mais impressiona é constatar que na longínqua época de 2012/ 13, quando os cherries ficaram em 2.º na League One, já faziam parte do plantel elementos como Simon Francis, Steve Cook, Charlie Daniels, Harry Arter ou Marc Pugh. Quase romântico.
    Desta temporada, para além de novo crescimento (em campo e na classificação) o destaque individual inevitável é Joshua King. O norueguês realizou uma segunda volta incrível e terminou com uns sensacionais 16 golos.
    Pode este Bournemouth continuar a evoluir? Poder pode, mas o primeiro passo passará sempre por segurar o seu jovem e visionário treinador.

Destaques: Joshua King, Charlie Daniels, Adam Smith, Steve Cook, Harry Arter

 WEST BROMWICH (10)

    Com um plantel que teoricamente iria lutar para não descer, Tony Pulis, o homem que nunca vai ao fundo, conseguiu construir um 10.º classificado sólido, respirando tranquilidade.
    Para se explicar aquele que talvez seja o melhor trabalho até à data de Pulis é preciso pensar que jogadores mais se destacaram na temporada do WBA. E é bastante intuitivo: o sector mais recuado. Em melhor plano estiveram o guardião Ben Foster, os defesas Craig Dawson, Jonny Evans e sobretudo o veterano Gareth McAuley (6 golos marcados pelo central de 37 anos!), o versátil Brunt e ainda Livermore, um médio de cobertura que pouco se aventurou no ataque.
    Matt Phillips foi durante algum tempo o elemento ofensivo mais importante, conseguindo maior consistência do que Rondón ou Chadli, jogadores que perfumaram alguns jogos. E por tudo isto se compreende que o objectivo deste West Brom, como habitualmente nas equipas de Pulis, foi garantir que a equipa não perdia, que não sofria golos.
    Ninguém ficou encantado com o futebol nos Hawthorns, mas não se podia pedir mais a este elenco. Desta vez não houve qualquer estrelinha da permanência, houve trabalho e muito mérito, apoiado num grupo experiente e num treinador-personagem que conhece muito bem a Liga.

Destaques: Gareth McAuley, Craig Dawson, Ben Foster, Jake Livermore, Matt Phillips

 WEST HAM (11)

    A época dos hammers, uma das desilusões da época, explica-se através das suas dores. Duas, sobretudo, que podem ser consideradas dores de crescimento. Depois de Bilic (continuamos a considerá-lo o treinador certo para este projeto e oxalá o clube não se precipite, despedindo o croata) conduzir a equipa ao 7.º lugar, dois acontecimentos condicionaram toda a temporada: o clube perdeu o seu talismã, Dimitri Payet, determinado em jogar no Marselha, e acusou a transição do Boleyn Ground ou Upton Park, a sua casa de sempre, para o majestoso estádio Olímpico.
    Quando o plantel tinha tudo para apresentar maior profundidade, possibilitando inclusive alguma gestão e rotação a Bilic, vários reforços acabaram por ser tiros ao lado (Calleri, Töre, Nordtveit ou Arbeloa), esperando nós muitíssimo mais de Feghouli ou André Ayew.
    José Fonte acabou por transitar de uma equipa que terminou em 8.º para uma que fechou a época em 11.º, mas é importante que a Direcção confie no trabalho desenvolvido nestes dois anos, segurando os melhores jogadores desta época (Lanzini e Antonio) e construindo uma equipa que saiba fazer justiça ao estádio que hoje é seu.

Destaques: Manuel Lanzini, Michail Antonio, Robert Snodgrass, Winston Reid

 LEICESTER CITY (12)

    É difícil, senão impossível, encontrar um momento do Futebol em 2016/ 17 mais cruel do que o despedimento de Claudio Ranieri.
    Os campeões de 2015/ 16 desceram à Terra e perceberam a tempestade perfeita que foi a época do título. Na realidade, sempre dissemos que terminar no Top-8 equivalia a uma boa temporada dos foxes, mas o 12.º lugar e o brutal decréscimo qualitativo obrigam a considerar esta temporada uma desilusão a nível interno. A época do Leicester fez-se sim na Champions, conseguindo Vardy, Mahrez e companhia atingir os quartos-de-final (nenhuma equipa inglesa chegou tão longe, caindo os foxes perante o Atlético de Simeone).
    De 2015/ 16 para 2016/ 17 não mudou assim tanta coisa. Mas a saída de N'Golo Kanté para o Chelsea mudou quase tudo. Mendy não foi capaz de substituir Kanté, Ndidi conseguiu melhorar a equipa embora muito longe do nível do omnipresente médio francês; vários reforços não acrescentaram valor como se esperava (Musa, Slimani, Kapustka); e de resto uma das principais diferenças foi mesmo o elevado número de jogadores (principalmente Riyad Mahrez e os defesas centrais) muito abaixo do nível apresentado há um ano.
    No meio de tudo isto, salvou-se Jamie Vardy. E não se salvou Ranieri, com a equipa a entrar nos eixos com Shakespeare (continuará?) no comando.

Destaques: Jamie Vardy, Wilfred Ndidi, Kasper Schmeichel, Marc Albrighton

 STOKE (13)

    O Stoke é, muito provavelmente, a equipa que teve a época mais cinzenta e a presença mais neutra nesta edição. Um futebol pouco apaixonante, poucos destaques individuais, e uma equipa que sem ser desilusão nem sensação, andou sempre pelo meio da tabela longe do céu e do inferno. E, mesmo que a classificação final até fosse esta, pedia-se melhor futebol e mais chama à equipa de Mark Hughes.
    Com pouca história para contar, Lee Grant foi um dos bons guarda-redes desta Premier League, colmatando a ausência prolongada de Butland (guardião de outro nível), Joe Allen deu sequência ao seu excelente Euro-2016 afirmando-se como o melhor jogador do clube nesta época, e face ao fraquíssimo rendimento de Wilfried Bony e Berahino, o Stoke viveu da inspiração e imprevisibilidade de 2 craques peritos na irregularidade, Shaqiri e Arnautovic.

Destaques: Joe Allen, Lee Grant, Xherdan Shaqiri, Marko Arnautovic

 CRYSTAL PALACE (14)

    E Sam Allardyce lá salvou mais uma equipa. Depois de ter salvo no passado West Ham, Bolton, Blackburn e o Sunderland (sim, na época passada), o resgate do Crystal Palace foi a última missão do soldado Allardyce antes de se aposentar.
    Numa época em que o Palace começou com Pardew, e em que Allardyce passou 67 dias como seleccionador inglês, a injecção de pragmatismo do técnico que iniciou funções em Dezembro chegou para deixar o clube progressivamente mais sereno e dono do seu destino.
    A equipa que em Abril derrotou Chelsea, Arsenal e Liverpool, teve no costa-marfinense Wilfried Zaha a sua principal arma, e em Benteke (acordou quando Allardyce chegou) o goleador em momentos determinantes. Mais importante do que Townsend ou Mandanda acabou por ser o reforço de Inverno, Milivojevic, e é impossível ignorar a importância de Mamadou Sakho na defesa (o central emprestado pelo Liverpool realizou apenas 8 jogos pelo Palace na Premier League, o suficiente para surgir entre os nomeados do clube para Jogador do Ano).

Destaques: Wilfried Zaha, Christian Benteke, Mamadou Sakho, Yohan Cabaye

 SWANSEA (15)

    Todos os caminhos da temporada 2016/ 17 do Swansea vão dar a um homem: Gylfi Sigurdsson. Se houve nesta Premier League uma one man team, essa equipa foi definitivamente o Swansea, carregado pela qualidade individual do médio islandês.
    Os swans só se "encontraram" quando Paul Clement foi anunciado como treinador, e desde bem cedo que se adivinhava uma época no limbo para o clube do País de Gales. A falta de qualidade numa defesa órfã do seu capitão e líder Ashley Williams (transferido para o Everton), que se veio a tornar a 2.ª pior defesa do campeonato (70 golos sofridos), e a falta de soluções no banco não auguravam nada de bom, e ainda há muito a fazer num clube que há alguns anos respirava muito mais saúde e potencial, quando entregue a Laudrup e a Rodgers.
    A manutenção foi garantida nas últimas jornadas, e como já dissemos o peso e o contributo de Sigurdsson foi absolutamente decisivo. O nórdico que faz toda a equipa jogar realizou a sua melhor temporada em Inglaterra, com várias assistências, mostrando ser muito provavelmente o melhor marcador de bolas paradas (impressiona a constante perfeição de Gylfi a bater cantos e livres indirectos) na Premier League. Se por acaso Sigurdsson sair no próximo defeso, os swans vão passar dificuldades.
    Para além da natural relevância do "factor Clement", Sigurdsson contou com os golos de Llorente (cumpriu sem deslumbrar), com a afirmação do central Alfie Mawson e ainda com a evolução de Tom Carroll.


Destaques: Gylfi Sigurdsson, Fernando Llorente, Alfie Mawson, Tom Carroll

 BURNLEY (16)

    Das duas vezes em que o Burnley tinha subido à Premier League, o resultado tinha sido sempre o mesmo: despromoção no ano seguinte. Desta vez, os pupilos de Sean Dyche foram uma das boas surpresas deste campeonato, conseguindo uma temporada tranquila (não se pode dizer que tenham estado envolvidos na luta para não descer, acabando por cair na classificação só no fim e já com os objectivos cumpridos) com um dos plantéis mais fracos da prova.
    Pode-se dizer que esta época bem sucedida teve na sua base dois factores. Primeiro, o registo do Burnley no seu estádio, o Turf Moor - em casa, o Burnley conquistou 33 do total de 40 pontos da época. E depois, o desempenho da sua defesa: o triângulo Tom Heaton, Michael Keane e Ben Mee foi fundamental, com o guardião inglês a realizar uma temporada fantástica, e a dupla de centrais a surpreender, dominando nas alturas.
    Pensávamos que Andre Gray iria marcar mais golos (acabou por ser Sam Vokes, com 10 golos, o melhor marcador da equipa) e, de um modo geral para que o clube cresça na direcção certa, os próximos reforços têm que ser claramente na linha de Robbie Brady, para que o clube consiga não só sobreviver mas subir um degrau.

Destaques: Tom Heaton, Michael Keane, Ben Mee, Sam Vokes, Jeff Hendrick

 WATFORD (17)

    O novo desafio de Marco Silva é a equipa que ficou um lugar e 6 pontos acima do seu Hull City.
    Sob o comando de Mazzarri, o Watford até deixou boas indicações no começo da temporada (quando venceu o West Ham fora por 4-2 e o Manchester United em casa por 3-1, parecia poder estar ali uma das sensações da época), mas a lesão de Roberto Pereyra (um dos poucos jogadores acima da média na equipa) aliada ao fantasma Ighalo (entretanto fez as malas para a China) e ao carácter algo "tosco" da defesa, levou os hornets a cumprirem somente os requisitos mínimos.
    O francês Capoue (nas primeiras 5 jornadas marcou 4 golos) foi um dos fenómenos passageiros desta edição, Deeney chegou aos 10 golos, e entre os reforços de Inverno, Niang fez o suficiente para ser contratado em definitivo.
    Seja como for, Marco Silva terá muito trabalho nos próximos meses: o Watford precisa de uma revolução, uma vez que este plantel não serve para a proposta de jogo habitual do treinador português, sendo urgente um rejuvenescimento do plantel e, globalmente, mais qualidade técnica.

Destaques: Etienne Capoue, Troy Deeney, Gomes, Nordin Amrabat

 HULL CITY (18)

    Quase, quase, quase. Foi por pouco que o português Marco Silva falhou o "milagre" da época em Inglaterra. Os tigers até arrancaram a temporada a desafiar as probabilidades - as 4 primeiras jornadas supreenderam muita gente, face à quantidade de lesões e à falta de reforços do clube - mas o tempo atirou o Hull para o último lugar da tabela, chegando à 20.ª jornada com apenas 13 pontos conquistados (particularmente penoso quando à 4.ª jornada o clube já somava 7).
    O craque da equipa, Robert Snodgrass, abandonou o clube em Janeiro, altura em que Marco Silva abraçou o desafio que, embora sem final feliz, acabou por colocá-lo no mapa dos treinadores em terras britânicas. A chegada do técnico português, ousado e pronto para revolucionar a forma de jogar do Hull, significou a chegada de vários reforços (Grosicki, Niasse, Markovic, N'Diaye, Ranocchia, Elabdellaoui e Evandro) e originou um boost na confiança do plantel, que passou a acreditar na manutenção.
    Na recta final, uma derrota inesperada em casa com o Sunderland - que pôs fim ao incrível registo caseiro de Marco Silva entre Estoril, Sporting e Olympiacos - e a incapacidade do clube em reagir na jornada seguinte perante o Crystal Palace, acabaram por destruir o sonho da manutenção, numa temporada que valorizou e muito não só o treinador lusitano mas também o lateral-esquerdo Robertson e o central Maguire.
    Por força das circunstâncias, acabámos por ser todos um bocadinho do Hull e talvez o desfecho tivesse sido outro se o treinador português tivesse substituído Phelan mais cedo.

Destaques: Andrew Robertson, Harry Maguire, Sam Clucas, Eldin Jakupovic

 MIDDLESBROUGH (19)

    É em certa medida um lugar comum dizer-se que na Premier League, na luta pela manutenção, costumam salvar-se as equipas que sabem defender. No entanto, defender só não chega.
    O regresso do Middlesbrough ao primeiro escalão parecia ter tudo para dar certo. O bom trabalho de Karanka no Championship e os reforços sonantes (Negredo e Valdés principalmente, mas também a promessa dinamarquesa Viktor Fischer e o médio defensivo holandês de Roon) levavam a crer que a temporada poderia pautar pela tranquilidade e estabilidade, culminando num lugar a meio da tabela.
    No entanto, a realidade foi bem diferente. O despedimento de Karanka à passagem da jornada 27 revelou-se um erro (o Boro estava a 3 pontos do 17.º classificado, e acabou a 12), passando a ideia de que o clube estava a desistir, e os números não deixam dúvidas. O Middlesbrough fartou-se de empatar (13 empates, valor apenas superado pelo United que mais empatou na História), foi a equipa com menos vitórias (apenas 5) e o pior ataque (27 golos marcados, quando Harry Kane sozinho marcou 29 pelo Tottenham).
    A nível individual, foram vários os jogadores em sub-rendimento, com o central Ben Gibson a ser provavelmente o principal destaque ao longo dos vários meses de competição.

Destaques: Ben Gibson, Álvaro Negredo, Marten de Roon, Victor Valdés

 SUNDERLAND (20)

    Permitam-nos dizer isto: Finalmente! Depois de inúmeros anos a safar-se tangencialmente, mas quase sempre com um futebol pobre, é desta que o Sunderland desce ao Championship.
    Os black cats, num ano particularmente penoso e amargo uma vez que descem ao segundo escalão e vêem o grande rival Newcastle ocupar a sua vaga, foram a pior equipa em prova, e parece-nos improvável que consigam reagir a esta descida há muito anunciada, mediante a fraca qualidade do elenco. David Moyes não teve mãos para salvar o clube, e não deixa de ser curioso que no ano em que o Sunderland abandonou o seu habitual modus operandi (tornou-se quase tradição o clube despedir o treinador no decorrer da época, salvando-se com o seu substituto, algo que ocorreu nas transições entre Di Canio, Poyet, Advocaat e Allardyce) acaba por ocorrer o inevitável.
    Nem as infinitas do jovem Pickford nem os golos do veterano Defoe foram suficientes para segurar o Sunderland, um lanterna vermelha que tem pela frente uma verdadeira travessia do deserto.

Destaques: Jordan Pickford, Jermain Defoe

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