4 de abril de 2017

Crítica: Logan

Realizador: James Mangold
Argumento: James Mangold, Scott Frank, Michael Green
Elenco: Hugh Jackman, Patrick Stewart, Dafne Keen, Boyd Holbrook, Stephan Merchant 
Classificação IMDb: 8.5 | Metascore: 77 | RottenTomatoes: 92%
Classificação Barba Por Fazer: 80


    Todos os filmes de super-heróis deviam ser assim. Sim, era difícil começar com maior elogio.
    A rivalidade Marvel/ DC, com enxurradas de filmes e séries nos últimos anos, tem conhecido vários momentos-chave na última década. A aquisição da Marvel, por parte da Walt Disney, terá sido um deles, cronologicamente (2); o império, actualmente encabeçado por Bob Iger, inclui hoje a Pixar, a Marvel e a Lucasfilm, tendo por isso garantida a sua sustentabilidade e o futuro de uma parcela significativa do cinema e do nosso entretenimento. Em 2005 estreava Batman Begins, o início de uma trilogia da DC entregue a Christopher Nolan. Momento-chave (1) com The Dark Knight a ser o apogeu dos filmes do género até hoje; daí para cá temos visto duas abordagens e estilos muito diferentes por parte de Marvel e DC. A Marvel, formulaica mas eficiente, opta por blockbusters mais leves, acertando na muche quando acrescenta actores ao seu universo, e a DC procura privilegiar um tom mais negro, que resultou com Nolan mas não é o único caminho, sobretudo por perder nas comparações e porque não tendo a mesma capacidade de tocar um instrumento que já originou sucessos no passado, tem agora que encontrar a sua própria identidade, embora acabe por copiar algumas das práticas da Marvel. Embora percebamos a estratégia, não morremos de amores pela lógica de grupo (Avengers, Justice League) e se a DC falhou redondamente com Batman VS Superman e Suicide Squad, a Marvel, mesmo tendo vários problemas também, tem arriscado e adoptado tons e formatos diferentes para heróis diferentes. Guardians of the Galaxy foi um sucesso inesperado, e a colaboração com a FOX (4) em Deadpool e agora Logan  é a prova que ainda há vida para os super-hérois no Cinema. Porque para nós, cada vez mais, o lugar deles é na Televisão (3). Em 2015, a dupla Marvel-Netflix elevou a fasquia quando Daredevil estreou, e desde aí que achamos que o melhor é mesmo "ler" bandas desenhadas divididas em episódios, com Preacher (AMC, DC) e Legion (FX, Marvel) a reforçarem isso mesmo. No entanto, Logan surge como antítese da nossa própria opinião. Pela sua simplicidade narrativa, violência, número de personagens e tom. Bravo, James Mangold.
 
    Na última vez que Hugh Jackman foi Wolverine e Patrick Stewart foi o Professor Charles Xavier, tudo acontece num futuro próximo. Um futuro no qual os mutantes estão em vias de extinção e no qual Wolverine, ou Logan, ganha a vida como motorista, cuidando do doente professor com a ajuda de Caliban (Stephen Merchant). Escondidos e quase esquecidos junto à fronteira com o México, Logan já não tem a mesma capacidade de se auto-curar, e o cérebro do velho telepata e mentor está danificado graças a uma doença neurodegenerativa. É neste contexto, sem esperança, que surge Laura (Dafne Keen), uma mutante de 11 anos que desencadeia a fuga dos protagonistas.
    Com uma violência, dureza e aspereza que assentam na perfeição com o trajecto cinematográfico de Wolverine, fechando o caminho de Hugh Jackman (único actor a dar corpo à personagem de 2000 a 2017) numa espécie de western simples, Logan é carregado pelos emocionantes desempenhos de Jackman e Patrick Stewart. Se em cada cena e combate de Logan vemos o peso do adeus do actor australiano, relativamente a Patrick Stewart, actor que merecia muito maior crédito do que tem, podemos apenas avisar-vos que serão destruídos emocionalmente pelo seu papel, desde a desorientação e dependência daquele que é o maior telepata do mundo Marvel, até ao close-up deitado na cama em que desabafa e se auto-condena e ao momento em que Logan o transporta, frágil, nos seus braços.
    O principal feito de Logan, que desde bem cedo mostrou estar no caminho certo ao incluir a "Hurt" de Johnny Cash num dos trailers, é a forma como consegue trabalhar tão bem e com profundidade Logan e Charles. Laura, ou X-23, é quase o macguffin do filme, e desta vez nem importa muito que a Marvel volte a oferecer-nos um vilão ou antagonista pouco interessante ou marcante (coisa que tende a fazer muito bem nas suas séries da Netflix) porque o objectivo do filme é cumprido, com aquela cruz transformada num X como último plano e a suavidade de So, this is what it feels like a concluir 17 de anos de Hugh Jackman como Wolverine, um período durante o qual o actor e a personagem se confundiram, oferecendo ao homem das garras que sempre viveu em guerra consigo mesmo, um pouco de paz.

    Para nós o mais indicado seria deixar Hugh Jackman para sempre como Wolverine, mas estamos certos que mais cedo ou mais tarde será escolhido um herdeiro. E que peso terá nos ombros...

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