19 de janeiro de 2017

Crítica: La La Land

A CAMINHO DOS ÓSCARES 2017
Realizador: Damien Chazelle
Argumento: Damien Chazelle
Elenco: Emma Stone, Ryan Gosling, Rosemarie DeWitt, John Legend, Finn Wittrock, J.K. Simmons
Classificação IMDb: 8.2 | Metascore: 93 | RottenTomatoes: 93%
Classificação Barba Por Fazer: 86
   
    Química. Woody Allen e Diane Keaton divertem-se em Annie Hall com lagostas pelo meio, Ethan Hawke e Julie Delpy caminham lado a lado em qualquer um dos filmes da trilogia Before, Leonardo DiCaprio espera por Kate Winslet na escada do Titanic, Adèle Exarchopoulos perde-se a olhar para Léa Seydoux em La vie d'Adèle, Brad Pitt diz a Angelina Jolie que ela o faz lembrar uma manhã de Natal em Mr. and Mrs. Smith, Joaquin Phoenix apaixona-se por um sistema operativo com a voz de Scarlett Johansson em Her, Jim Carrey combate a tentativa de esquecer Kate Winslet em Eternal Sunshine of the Spotless Mind. Química.
    Crazy, Stupid, Love e Gangster Squad foram os dois passos anteriores da dupla Ryan Gosling e Emma Stone, que têm em 'La La Land' o apogeu da sua relação cinematográfica. Difícil imaginar o filme de Chazelle a resultar tão bem com Emma Watson e Miles Teller, como inicialmente estava pensado.
    Não nos enganemos. Damien Chazelle nasceu para isto. Quem, nas suas primeiras três longas-metragens, consegue oferecer-nos Whiplash e agora este semi-musical só pode ser descrito de uma forma: génio. E há cada vez menos pessoas dignas desta palavra.
    A premissa de 'La La Land' é simples: em Los Angeles, Mia (Emma Stone), uma aspirante a actriz que trabalha num café de um estúdio de cinema, enquanto procura agarrar uma oportunidade com o casting perfeito, conhece Sebastian (Ryan Gosling), um pianista de jazz frustrado mas teimoso que não quer deixar o género morrer, mas que se vê obrigado a tocar o que os outros querem em bares ou restaurantes. É este o ponto de partida do filme que venceu 7 Globos de Ouro (recorde).
    Com um cheirinho a Disney (Chazelle queria ser como Walt Disney quando era pequeno) e uma paixão e respeito pela História do Cinema traduzida pelo realizador em cada plano e cena, 'La La Land' recupera a tradição dos musicais - Singing In the Rain, The Umbrellas of Cherbourg ou a dupla inigualável Astaire/ Rogers - mas fá-lo conjugando o antigo e o novo, tornando-se um clássico moderno. Chamamos-lhe semi-musical na medida em que não abusa dos números coreografados mas todos os que tem contribuem para a narrativa, com a música e o jazz a servirem como contadores de histórias e não como elemento anexo, destacando-se ainda a preocupação de Chazelle em filmar as sequências musicais sem cortes. O filme começa, aliás, com um plano-sequência feito para mostrar logo aos espectadores a vivacidade, energia, ritmo e coração do que está para vir.
    Mas o que faz 'La La Land' ser o sucesso que é? A utilização perfeita da luz, nomeadamente a isolar e destacar objectos, a paleta de cores e Fotografia (genial o trabalho do sueco Linus Sandgren) e claro a extraordinária banda sonora composta por Justin Herwitz - músicas que ficam na cabeça durante dias a fio, capazes de nos transportar para momentos, e que servem ao longo do filme como call-back - "Audition (The Fools Who Dream)" é a alma do filme, "City of Stars" a música mais catchy, mas há ainda "Someone in the Crowd" ou "A Lovely Night", todas com tanto para dizer e em direcção a um epílogo de 7 minutos que o Cinema nunca esquecerá.
    Nostálgico e romântico, não será de admirar se 'La La Land' conseguir igualar o recorde de 14 nomeações para Óscar que pertence a Titanic e All About Eve; basta para tal que tenha duas canções suas nomeadas, e que surja nas duas categorias de som (Edição e Mixagem), completando a combinação: Melhor Filme, Realizador, Actriz, Actor, Argumento Original, Fotografia, Edição, Design de Produção, Banda Sonora, Guarda-Roupa, Mixagem de Som, Edição de Som e duas canções originais.
    A juntar aos factores mencionados dois parágrafos acima, há a genialidade do maestro Damien Chazelle, 32 anos feitos hoje, que sabe incorporar música no ecrã como ninguém e volta a contar a história que tem a contar nos tempos certos. Como em Whiplash, há uma total imprevisibilidade na recta final (cada vez mais raro numa indústria previsível e que às vezes parece carente de ideias), e um remate perfeito novamente com um olhar entre duas personagens que parecem dizer uma à outra tenho saudades do passado que nunca tivemos, mas que transmite sobretudo serenidade e gratidão.
    Emma Stone brilha do primeiro ao último minuto do filme, com destaque nas audições, mas sempre com um entusiasmo, vida e vulnerabilidade contagiantes; e Gosling é o complemento perfeito - e sim, ele aprendeu a tocar piano.
    'La La Land' não é uma quimera, não é uma utopia. É uma carta de amor que Damien Chazelle nos escreve a todos, consciente que a grandeza e os nossos sonhos têm por vezes um preço, e que todas as pessoas têm um papel na nossa vida. Fala-nos sobre sonhar e desistir, sobre frustrações e teimosia, mas consegue-o com um filme positivo num mundo em que todos estamos a precisar que nos distraiam e nos inspirem.

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