17 de maio de 2016

Prémios BPF Liga NOS 2015/ 16

Terminada a época da Liga NOS, está na hora de distribuirmos os nossos prémios. Não foi um ano em que o bom futebol tenha abundado mas foi, sem sombra de dúvidas, uma Liga com uma das lutas mais intensas e competitivas dos últimos anos, com os rivais Benfica e Sporting a lutarem pelo título de campeão nacional até ao último jogo. Oxalá essa competitividade e equilíbrio se tivesse alastrado ao campeonato como um todo.
    Um ano que certamente envelheceu muitos adeptos ferrenhos. Um Benfica com uma pré-época completamente mal estruturada depois de perder Jorge Jesus e o vice-capitão Maxi Pereira para os rivais, um Porto que investiu novamente no plantel (não tanto como no ano passado) e que prometia voltar este ano mais forte e um Sporting completamente transformado. Com um futebol muito mais atractivo, com a motivação em alta - depois de desviar Jorge Jesus da Luz e de ter vencido o Benfica na Supertaça -, mas sempre muito provocatório. Jorge Jesus, Bruno de Carvalho, Otávio Machado e Augusto Inácio aproveitavam todas as aparições públicas para atirar setas ao já ferido vizinho da segunda circular.
    O que é certo é que assistimos a uma recuperação incrível do Benfica perante o rival Sporting; um Sporting a jogar bem, mas a tropeçar em jogos fulcrais depois da derrota custosa em Braga para a Taça; e um Porto que - de forma resumida e utilizando palavras de Jorge Nuno Pinto da Costa - bateu no fundo. Péssima época da equipa nortenha, totalmente descaracterizada, e que mesmo quando adquiriu um balão de oxigénio rumo ao título (vitória na Luz), rapidamente voltou para o fundo. O Braga finalmente jogou à grande com os riscos que Paulo Fonseca tanto quis correr, e Lito Vidigal e Petit acabaram por deixar uma marca notável neste campeonato no Arouca e no Tondela, respectivamente.
    Ora avancemos então para os nossos prémios da Liga NOS 2015/16:


Guarda-Redes: O melhor ano da carreira do número 1 de Portugal. Titular nos 34 jogos da defesa menos batida do campeonato (21 golos sofridos, Patrício sofreu 19 deles), o guardião leonino apresentou-se mais seguro, sereno, maduro e regular esta época, transmitindo a tranquilidade necessária a uma defesa que mudou integralmente com o decorrer do ano desportivo. Disse presente em inúmeros momentos; e se em épocas anteriores chegou a comprometer, desta vez deu pontos e segurou vantagens preciosas.
    O ex- FC Porto, Rafael Bracali, brilhou na baliza do sensacional Arouca. Ao longo da competição defendeu 3 grandes penalidades e foi um dos principais responsáveis pelo desempenho defensivo da equipa (a grande arma da equipa comandada por Lito Vidigal), contribuindo por exemplo para a sequência de 5 jogos seguidos sem sofrer (registo notável para qualquer equipa não-grande). Ainda nas escolhas incluem-se 2 guarda-redes com passagem em Braga: Marafona dividiu-se entre a Mata Real e o Minho, e mostrou ser capaz de suceder a Kritciuk, o guardião russo que só realizou meia temporada em Portugal, mas que - mantendo o nível que estava a apresentar - partia como favorito para ser eleito o guarda-redes do ano no final. Por fim, a última vaga fica entregue a Júlio César. É certo que foi Ederson (titular nos últimos 10 jogos) quem terminou a época como indiscutível na baliza dos encarnados, mas o imperador teve um papel importante no começo atribulado do tricampeão. E, embora a tendência seja o adepto-comum dar maior valor às últimas imagens, quer dos jogos quer dos campeonatos, os 24 jogos do veterano de 36 anos chegam para o colocar entre os nossos 5 eleitos.


Lateral Direito: Juntamente com Jonas e Jardel, o uruguaio Maxi Pereira marca presença como titular no nosso 11 do Ano pelo segundo ano consecutivo. No entanto, é o único deste trio que o faz com outra camisola. O lateral direito, antigo subcapitão das águias, mudou-se com polémica para a Invicta e, embora o campeonato do Porto tenha sido para esquecer, os azuis e brancos não se podem queixar do rendimento, da entrega e da raça de Maxi. Na posição das 11 em que o nível médio foi mais fraco, Maxi esteve bastantes furos acima da concorrência. Os números ajudam-no: 1 golo e 9 assistências.
    Abaixo do uruguaio, Baiano foi um dos elementos mais regulares do Braga, André Almeida deu sinais de crescimento no apoio ao ataque, e voltou a confirmar-se como um jogador fiável do ponto de vista defensivo (sabe as suas limitações, inventa pouco, protege-se, embora acrescente pouco); Anderson Luís melhorou na 2.ª volta (fecha a época com 2 golos e 6 assistências), mostrando potencial para outras paragens, e Lionn ocupa a última vaga, superiorizando-se à tangente a João Diogo (Marítimo), e beneficiando dos poucos jogos do sportinguista Schelotto.


Defesa Central (Lado Dto.): O iceman de 22 anos foi uma das agradáveis surpresas deste campeonato. Depois de se sagrar campeão europeu de Sub-21, o sueco Lindelöf aproveitou as lesões de Luisão e Lisandro e agarrou o lugar no onze do Benfica com unhas e dentes. De 4.º na hierarquia passou a insubstituível ao lado de Jardel, revelando uma maturidade invulgar, ele que é um central muito completo, com gelo nas veias (brilhante sentido posicional e compostura) e ainda com enorme margem de progressão. Nos seus 15 jogos (mínimo para um jogador ser elegível para as contas do 11 Barba Por Fazer), o Benfica venceu 14, e fica na memória o seu incrível desempenho no Sporting 0-1 Benfica, jogo no qual foi o melhor em campo e que acaba por ser o jogo do título, uma vez que serviu para os rivais de Lisboa trocarem de posição, sendo que nos 9 jogos seguintes, tanto águias como leões fizeram 27 pts em 27 possíveis.
    O facto de Coates não cumprir os nossos critérios de selecção afastam-no das nossas cogitações - ele que para o ano é um fortíssimo candidato, caso mantenha o nível - pelo que no lado direito dos defesas centrais incluímos ainda Ricardo Ferreira, que muito cresceu sob a orientação de Paulo Fonseca; Marcelo, que disse adeus às lesões e voltou ao patamar exibicional de outrora; e ainda os menos cotados Rui Correia (5 golos marcados) e Diego Carlos.


Defesa Central (Lado Esq.): Há um ano fez-se monstro. Esta temporada manteve-se no topo, preservando o estatuto de melhor central a jogar em Portugal. O número 33 do Benfica teve Luisão, Lisandro e Lindelöf ao seu lado esta época, e manteve-se constante. Cada vez mais líder, foi a voz de comando da defesa (terminou a temporada com os jovens Ederson e Lindelöf a integrarem o triângulo central mais recuado) e hoje em dia é cada vez mais difícil descobrir um erro do central que, na fase final "apertada" do Benfica, acabou por marcar golos decisivos contra Guimarães e Setúbal.
    Impressionante é o adjectivo que serve para caracterizar o desenvolvimento de Rúben Semedo como jogador nestes meses de Liga NOS. Começou emprestado ao Vit. Setúbal (os sadinos ressentiram-se tanto da sua saída como de Suk), mas voltou à base a meio da época, a tempo de se afirmar como titular e formar uma excelente dupla com Coates. Elegante, com qualidade a sair a jogar, encostou Paulo Oliveira, Naldo e Ewerton por mérito próprio.
    Atribuímos os 3 restantes lugares a Hugo Basto, o patrão da defesa do Arouca; Willy Boly, um dos 3 centrais mais utilizados por Paulo Fonseca e um dos principais destaques defensivos da primeira volta; e Paulo Vinícius, uma autêntica força da natureza, imbatível no jogo aéreo e um dos melhores elementos dos axedrezados.


Lateral Esquerdo: Se o Porto não comprar em definitivo Miguel Layún, comete um grave erro. O lateral mexicano chegou a Portugal e, numa época atípica é certo, foi juntamente com Danilo Pereira o melhor jogador do Porto. Marcou 5 golos, fez 15 assistências (números absolutamente fantásticos) e deixou claro que o problema do Porto não foi a dinâmica dos seus laterais.
    Numa posição que a meio da época parecia ter Jefferson, Nuno Pinto e Marcelo Goiano também incluídos na luta, as dúvidas dissiparam-se entretanto: Lucas Lima (exímio marcador de livres directos) juntou à solidez defensiva do seu quarteto, a capacidade de acrescentar valor no ataque; Hélder Lopes foi um dos motores do Paços e mostrou que está preparado para dar o salto em Portugal; Zeegelaar começou muito bem pelo Rio Ave, e manteve a toada ao serviço do Sporting (é o lateral mais equilibrado dos leões), e por fim, o "patinho feio" Eliseu, que mesmo sendo o elo mais fraco dos encarnados (a dúvida é entre os dois laterais), apresentou-se mais seguro. Não teve o impacto ofensivo de 2014/ 15, mas também não cometeu os mesmos erros.


Médio Centro: Adrien Silva foi extraordinário quando orientado por Leonardo Jardim. Mas com Jorge Jesus disparou para uma nova dimensão. O capitão do Sporting, para nós o 3.º melhor jogador deste campeonato, foi um exemplo para os colegas de equipa, e o crescimento competitivo dos leões deve-se, para além do trabalho de JJ, à raça e fome de bola que Adrien e Slimani souberam colocar em campo 90 após 90 minutos, contagiando os colegas com a sua intensidade (com e sem bola). Excelente a transportar o jogo da equipa, sobre-humano na capacidade de pressionar e condicionar o jogo dos adversários, melhorou na leitura do jogo (da sua equipa, e dos oponentes) e soube sempre o que tinha que fazer em campo. A braçadeira fica-lhe bem.
    O nosso esquema de 4-4-2 (utilizado pelas duas melhores equipas deste campeonato, e passível de encaixar a versão mais forte de 2015/ 16) obriga-nos a uma "adulteração táctica", capaz de fazer coexistir Adrien Silva e Renato Sanches. Assim, e ocupando Adrien a 1.ª posição nos médios de características mais recuadas (a verdade é que Adrien até começou a época a seis), o quinteto é ainda composto por Fejsa, Danilo, Luiz Carlos e Cafú. O sérvio do Benfica, embora apenas com 19 jogos, foi quem segurou a equipa na ponta final. Equilibrou sempre o tabuleiro encarnado, permitindo "soltar" Renato, e fez uso do seu incrível sentido posicional e de uma capacidade de desarme/ timing no corte como mais ninguém tem na Liga Portuguesa. Já merecia uma temporada sem lesões, o trinco, máquina de combate e recuperação, que foi campeão 9 vezes nas últimas 8 épocas.
    Danilo Pereira foi uma das figuras do Porto, e um dos poucos jogadores dos dragões que jogaram de acordo com o ADN do clube, justificando a titularidade no Euro-2016. Luiz Carlos, um tractor que não pára, e Cafú (Otávio foi quem fez as coisas acontecer, mas o capitão foi aquele que carregou a equipa quase sozinho durante vários jogos) fecham as nossas escolhas, priorizando a regularidade destes elementos a William Carvalho, que terminou a época em bom plano, mas só começou a exibir o seu nível a partir da renovação de contrato.


Médio Centro: A sala das máquinas do Benfica versão 2015/ 16. Se houve tricampeonato para os lados da Luz, muito o Benfica o deve a Renato Sanches. Com apenas 18 anos, o número 85 dos encarnados, já anunciado como reforço do Bayern, foi o motor e a alma, e contagiou toda a equipa com a sua rebeldia, determinação e lado selvagem. Foi a peça que faltou durante algum tempo, o oito que Rui Vitória não tinha para desbloquear adversários e manter a dinâmica constante, e os números dizem bastante do peso de Renato: nos 24 jogos que fez nesta Liga NOS, o Benfica ganhou 22, empatou 1 e perdeu 1. Em 102 pontos possíveis, o Benfica fez 88. Dos 14 perdidos, 9 sem ele, apenas 5 com ele. Foi uma das figuras do campeonato, teve o impacto de uma revolução e serviu de injecção de adrenalina.
     A companhia para o bulo é composta por Otávio (o pequeno mágico mostrou que tem lugar no plantel do Porto em 2016/ 17, e foi um dos maiores desequilibradores desta edição), Mattheus (grande segunda volta, em total sintonia com Bonatini), André André (brilhante 1.ª volta, perdendo fulgor com lesões pelo meio) e ainda Nikola Vukcevic, uma das grandes surpresas na primeira metade da época (Paulo Fonseca acabou a privilegiar Luiz Carlos e Mauro no miolo), depois de resgatado da equipa B dos bracarenses.


Extremo Direito: Há poucas palavras para descrever a temporada de João Mário. Um jogador de classe pura, que se refina a cada ano que passa, e com um QI futebolístico como poucos. A primeira grande época do camaleão do Sporting (fundamental o seu entendimento do jogo, e a capacidade que tem de funcionar como interior, médio direito ou médio ofensivo, deambulando da posição para provocar desequilíbrios) deixou-o nas bocas do mundo - acreditamos que o Euro-2016 só o irá reforçar -, ele que foi quase sempre o MVP nos jogos grandes. Termina a temporada com 6 golos e 10 assistências, embora seja um exemplo clássico de que os números estão bem longe de dizer tudo.
    Iuri Medeiros (8 golos e 10 assistências) brilhou ao serviço do Moreirense, espalhou magia, acumulou pormenores deliciosos, trocou os olhos a muitos defesas com movimentos repetidos mas quase sempre com sucesso, e merece que o Sporting o inclua no plantel em 2016-17. Pizzi realizou a melhor época da carreira, e juntou aos 8 golos marcados a capacidade de inspirar o Benfica numa determinada sequência de jogos, beneficiando do facto de finalmente actuar naquela que é a sua posição ideal. Pedro Santos, do Braga, chegou a roubar o protagonismo a Rafa em alguns jogos e, embora Salvador Agra ou Corona tenham tido melhores números, a nossa 5.ª escolha é o desconcertante Amilton, um jogador vertical e veloz que não terá dificuldades em arranjar novo clube no primeiro escalão.


Extremo Esquerdo: Sem dúvida uma posição de luxo no futebol português. Em nenhuma outra função do campo se encontra um quarteto com o nível/ rendimento de Jota, Gaitán, Ruiz e Rafa. Nico Gaitán, eleito por nós Jogador do Ano em 14/ 15, caiu substancialmente de rendimento. O 10 argentino do Benfica apresentou-se irregular, fustigado por lesões, acabando mesmo assim com 4 golos e 15 assistências. Não teve, por si só, o impacto de outrora, embora no primeiro terço do campeonato o Benfica tenha sido "bola no Gaitán, e ele que invente algo". Bryan Ruiz (outro exemplo de jogador que não pode nem deve ser medido pelos números) espalhou classe e elegância, sendo o Reforço do Ano do nosso campeonato e um dos indiscutíveis de Jorge Jesus. O Pedro Barbosa costa-riquenho tem qualidade para jogar, na nossa Liga, à velocidade que bem entende, e acrescentou requinte ao futebol leonino. O bracarense Rafa realizou a melhor época da carreira (o brilho foi ainda maior na Liga Europa), fazendo por merecer a confiança de Fernando Santos, e justificando tornar-se a curto-prazo a maior venda da História do Braga. A 5.ª vaga, discutível, fica atribuída a Edgar Costa, não por ser o autor do golo do ano na Liga NOS, mas porque foi mais constante do que a concorrência.
    Assim, e embora reconheçamos que muitos dirão que deveria ser Gaitán, Bryan Ruiz ou Rafa a ganhar, a nossa escolha é Diogo Jota. O craque do Paços joga como gente grande, mexe com o jogo de forma imprópria para a idade, e foi dos 4 aquele que apresentou maior regularidade, sempre num nível alto (embora seja difícil nivelar jogadores de patamares diferentes, e enquadrados em contextos díspares).


Segundo Avançado: 32 golos marcados, 12 assistências. Sim, Jonas esteve directamente ligado a 44 golos do tricampeão. Quando um jogador em Portugal (campeonato com menos 4 jornadas do que vários dos principais na Europa) consegue estar na corrida pela Bota de Ouro, num ano competitivo, até perto do fim, percebe-se o seu impacto. Com 32 anos, parece melhorar de ano para ano, e foi o homem-golo do Benfica e do campeonato. Incapaz de combater o estigma de "não aparece nos jogos grandes" (pelo menos na ficha de jogo), voltou a espalhar uma classe inconfundível pelos relvados portugues, com golos incríveis, pormenores dignos de justificarem o preço do bilhete, conseguindo sempre mexer com o jogo.
    A seguir a Jonas, destaque para o brasileiro Léo Bonatini (17 golos, 4.º melhor marcador), figura do Estoril que, com o potencial tremendo que tem, pede outros voos. Elegemos ainda 2 jogadores ligados ao Sado: André Claro foi o elemento ofensivo mais regular ao longo da época, enquanto que Suk (pelo que fez na 1.ª volta, que o levou a ser transferido para o Porto) merece ser incluído. Marca ainda presença o egípcio Hassan, a queimar mais uma etapa no seu processo evolutivo, agora adaptado a um sistema de 2 avançados num Braga que já joga à grande.


Ponta de Lança: Qualquer equipa que tenha o argelino como primeiro homem da pressão, será facilmente inspirada a manter-se aguerrida e intensa os 90 minutos. Jesus fez crescer Slimani (melhorou muito tecnicamente), hoje um finalizador letal, senhor das alturas, que chegou à sua melhor marca de sempre no Sporting - 27 jogos marcados, no campeonato. Foi uma das 3 principais figuras dos leões, e caso saia não será tarefa fácil substituí-lo.
    Segue-se o grego Mitroglou, o complemento perfeito para Jonas no ataque encarnado - se Jonas deambula enquanto baralha marcações, Mitroglou é a referência posicional; se Jonas atropela os "pequenos", Mitroglou apareceu sempre nos jogos decisivos, marcando golos importantes. Com 20 golos marcados, mostrou que o Benfica só tem a ganhar em comprá-lo em definitivo. Bruno Moreira e Rafael Martins (14 e 16 golos, respectivamente) foram a expressão mais evidente do golo, em duas equipas iluminadas num caso por Diogo Jota e no outro por Iuri Medeiros, enquanto que Nathan Júnior foi um dos jogadores que nunca virou a cara à luta, marcando golos que culminaram na permanência do Tondela.


    Para Jogador do Ano, e ao contrário do ano passado (Nico Gaitán foi o vencedor), o mundo está aos pés de Jonas. O avançado do Benfica foi a principal figura do campeonato, e o grande responsável pelo tri, juntando à classe e à sua mobilidade, que baralha defesas e aproxima o Benfica do golo, números impossíveis de ignorar: 32 golos e 12 assistências. Não tem preço.
    Parece-nos consensual que no lote de 4 principais jogadores deste campeonato, juntamente com Jonas, surjam os 3 melhores elementos do Sporting - João Mário (senhor dos jogos grandes, com fino recorte técnico e brilhante sentido táctico), Adrien (sinónimo da determinação e do suor leonino em cada jogo, parecendo por vezes omnipresente) e Slimani (um finalizador por excelência, que evoluiu imenso).
    Posto isto, temos noção que as duas últimas vagas poderiam também ficar entregues a vários jogadores do seguinte leque: Mitroglou, Gaitán, Bryan Ruiz, Rafa, Jardel, Layún, Danilo e Fejsa. No entanto, pareceu-nos mais justo - até porque a idade no cartão de cidadão não pareceu a idade que apresentaram em campo - eleger os jovens Renato Sanches e Diogo Jota, com 18 e 19 anos respectivamente. O primeiro foi o pacemaker dos encarnados, fazendo o coração do Benfica bater até ao título, e Jota foi uma anomalia positiva (quem o acompanhou toda a época saberá reconhecer a justiça desta nomeação).


    Depois de William Carvalho e Óliver Torres, é a vez de Renato Sanches. Num ano particularmente forte em termos de juventude (jogadores como Otávio, Gelson Martins, André Horta ou Miguel Silva têm que ficar à porta do Top-6), Rúben Semedo confirmou ser um projecto muito interessante, primeiro na equipa de Quim Machado e finalmente orientado por Jorge Jesus, Léo Bonatini fez 17 golos pelo Estoril e é praticamente impossível que o clube da Linha o segure, e Lindelöf saiu da sombra para se assumir como figura preponderante do Benfica. Iuri Medeiros, o único destas jovens promessas que estava no nosso Top-6 há um ano atrás, brilhou de forma constante, com números, tornando o seu jogo ainda mais objectivo mas sem perder a fantasia que o define.
    Diogo Jota, de quem esperávamos muito no começo da época, foi simplesmente incrível, com 12 golos apontados e uma maturidade invulgar num extremo de 19 anos (já é um mestre a surgir entre linhas, sabe explorar os espaços), conjugada com pequenos apontamentos que fazem dele um craque cujo futuro não engana. É certo que por estar no Paços gozou de maior liberdade para ser como é, mas acreditem, está aqui um case study, uma espécie rara no futebol português. Ainda assim, Jota perde para Renato Sanches. O miúdo de 18 anos do Benfica assumiu a equipa, que se encontrou a partir do momento em que contou com um jogador que compensa aquilo que não tem em rigor táctico na sua ambição, entrega e irreverência em campo. Mudou o Benfica, que sem ele dificilmente seria campeão.


Treinador do Ano: Não deixa de ser curioso que, passado 1 ano, entre os nossos 5 treinadores escolhidos, 4 deles sejam repetições de 2014/ 15, mas todos em clubes diferentes. Jorge Jesus trocou o Benfica pelo Sporting; Rui Vitória trocou Guimarães pela Luz; Vidigal esteve no Belenenses e está agora em Arouca, e Petit partiu do Bessa para Tondela.
    Num ano em que o campeonato não foi particularmente competitivo de um modo geral, mas a luta a dois pelo título foi extraordinária, é bastante difícil chegar a uma eleição consensual. Por isso, interessa considerar os vários argumentos contra e favor, conscientes de que Jorge Jesus é o melhor treinador em Portugal, o que não implica que o seja quando considerado cada ano desportivo isolado.
    Começando por Petit, se na temporada passada fez um petit milagre com o seu Boavista, desta vez o milagre foi très grand. Herdou um Tondela que parecia condenado, e resgatou a equipa, colocando-a acreditar até ao fim: 5 vitórias nos últimos 7 jogos e 22 pontos na segunda volta (quando o clube na primeira fizera apenas 8). Paulo Fonseca teve o mérito de colocar o Braga pela primeira vez a jogar "à grande", com uma ideia de jogo ambiciosa e bem trabalhada (deu sempre gosto ver os jogos entre Braga e Sporting, e o festival de futebol na recepção ao Porto), mas acabou - também por manter o clube durante muito tempo em 4 competições, um mérito evidente - por cumprir as expectativas em termos de classificação (4.º lugar), apenas 4 pontos acima do sensacional Arouca e a 15 de distância de um Porto muito frágil. O trabalho de Lito Vidigal, destes cinco o que colocou a sua equipa mais acima das expectativas inicialmente criadas, foi impressionante - fez crescer o colectivo, afinou a defesa, e levou o Arouca à Liga Europa. Contra si, um futebol pouco entusiasmante, mas consciente das forças e fraquezas da equipa.
    Chegando à rivalidade mais escaldante da temporada, Jorge Jesus teve o mérito evidente de permitir aos adeptos leoninos dizerem "O Sporting voltou". Jesus, logo no 1.º ano, conseguiu que a equipa desse um salto gigante em termos de competitividade e do futebol produzido, com processos trabalhados visíveis (factor que joga sempre a favor de JJ pela obsessão de ter a equipa a jogar como quer, quando Rui Vitória dá maior liberdade, e enquanto um quer pressão e vertigem constante, o segundo prefere o equilíbrio e a estabilidade emocional, dos quais talvez decorra a maior eficácia), a melhor defesa do campeonato e 86 (!) pontos. Contra Jesus, imperdoável o facto do Sporting ter deixado escapar uma vantagem significativa por demérito evidente (o Sporting-Benfica foi decisivo, mas não seria se os leões não tivessem perdido pontos "proibidos" em jogos acessíveis) e o constante bombardear do grande rival, que só ajudou à união do Benfica. Com Jesus em silêncio, talvez o destino do campeonato pudesse ter sido outro.
    Assim, e embora Jorge Jesus se agarre à ideia que o Sporting foi superior em campo nos 34 jogos do campeonato, o que de pouco vale se a bola não entrar, e mesmo tendo perdido apenas 1 clássico, Rui Vitória acaba por derrotá-lo por uma unha negra. O treinador do Benfica teve tudo contra ele (pressão externa e interna a duvidarem da sua capacidade para o lugar, uma pré-época planeada de forma absurda, lesões de jogadores-chave como Luisão, Júlio César e Gaitán) mas manteve a postura e o discurso "É por nós, não é contra ninguém", e foi encontrando resposta para os vários problemas. Teve o mérito de conseguir um tricampeonato que não acontecia desde 76-77, sem nunca abdicar ou descurar as restantes competições, lançou e acreditou em jovens que ficaram de pedra e cal no onze, e estabeleceu novo recorde de pontos (88). Se o Sporting de Jesus perdeu a liderança, foi inquestionável a capacidade de Rui Vitória (o tipo de treinador que gere bem recursos humanos, e nunca quer ser figura) ao criar um grupo unido e solidário, que esperou a sua oportunidade de chegar à liderança e não vacilou mais - na 2.ª volta ganhou 16 jogos em 17; e depois de um mau arranque, terminou o campeonato com 12 vitórias consecutivas e 25 vitórias nos últimos 27 jogos. Tal como seria igualmente justo Benfica ou Sporting acabaram a erguer o troféu, o mesmo se pode dizer de Vitória e Jesus. À imagem do campeonato, Rui Vitória ganha no photo finish.


Melhor Marcador: 1. Jonas (Benfica) - 32
2. Islam Slimani (Sporting) - 27
3. Kostas Mitroglou (Benfica) - 20

Melhor Assistente: 1. Nico Gaitán (Benfica) - 15
2. Miguel Layún (Porto) - 15
3. Jonas (Benfica) - 12

Clube-Sensação: Arouca
Desilusão: Porto
Most Improved Player: 1. Islam Slimani, 2. Ricardo Ferreira, 3. Cafú
Reforço do Ano: Bryan Ruiz (Sporting)
Flop do Ano: Adel Taarabt (Benfica)
Melhor Golo: Edgar Costa (Marítimo 2 - 0 Nacional) (Link)


0 comentários:

Enviar um comentário