3 de agosto de 2015

100 Melhores Personagens de Filmes - Nº 10



Filme: The Godfather
Actor: Al Pacino

por Miguel Pontares

    Bem, ainda há pouco tempo escrevi sobre Frank Slade (18) e agora volto a ser apadrinhado por Al Pacino. Se eu me importo? Não, definitivamente. Não é o actor mais representado neste Top100 mas é o único com 2 personagens entre os vinte primeiros lugares.
    Entre milhares de filmes, a preto e branco ou cores, haverá sempre um lugar especial para 'The Godfather' no Cinema. A obra de Mario Puzo, adaptada por Francis Ford Coppola, é um Clássico. Mais do que isso, até. Para muitos o melhor filme de sempre, ocupando no IMDb o 2.º e 3.º lugares, ignorando a parte III.
    Embora Don Vito Corleone seja O Padrinho original, a trilogia é riquíssima em personagens - Fredo Corleone (o incrível John Cazale que nos deixou cedo demais, com um registo de apenas 5 presenças em filmes, todos eles nomeados para Melhor Filme, e 3 galardoados), o temperamental Sonny Corleone, o irmão "emprestado" Tom Hagen e ainda, por exemplo, Frank Pentangeli ou Clemenza. 
    Entre Corleones havia um membro da família que queria percorrer um caminho honesto, aparte do mundo da Máfia. Falo de Michael Corleone, o filho mais novo de Don Vito (Marlon Brando).
    Embora Don Vito sirva diversas vezes como rosto do filme, a trilogia é principalmente sobre Michael. A transformação e a génese do novo chefe da família Corleone. O 1.º contacto que temos com o único Corleone que vai à faculdade é no casamento da irmã, acompanhado pela sua futura mulher Kay. Involuntariamente e de forma magnética simpatizamos com o rapaz que não quer ter nada a ver com os negócios da família e que quer traçar o seu próprio caminho. Olhar para Michael no começo da Parte I e no final da Parte II é testemunhar um dos melhores (ou piores, em termos comportamentais) desenvolvimentos de personagem de sempre.
    Tudo muda quando o pai sofre um atentado. Michael percebe que as circunstâncias exigem medidas drásticas, e a necessidade de proteger a família fala mais alto. Salva o pai, mas condena a sua própria alma, um passo de cada vez. Revela-se o único filho capaz de herdar do pai a poltrona e os submissos beijos na mão, assumindo pela primeira vez uma frieza visceral ao oferecer-se para matar Sollozzo e McCluskey (que cena brutal!). No seu exílio siciliano, Michael conhece Apollonia, com quem se casa, e o derradeiro passo para se tornar frio e metódico - já depois do seu irmão Sonny ser morto - é o homicídio da mulher. No regresso a casa, reata com Kay, com quem se casa e constitui família, e sucede ao seu pai, prometendo-lhe tomar conta da família. Com Vito morto, Michael emerge como um Don ainda mais implacável, separando negócios e questões pessoais. Prova disso é o momento em que ordena o assassinato do cunhado.
    Se a parte I é a ascensão de Michael, na parte II a corrosão na personagem é crescente, à medida que procura expandir os negócios da família. Quase todas as suas cenas borbulham numa tensão impressionante, seja na sala de estar de Pentangeli, em Cuba com Hyman Roth, quando fala raivosamente com Kay ao descobrir que ela fez um aborto, ou quando agarra veementemente a cabeça do irmão Fredo e lhe diz "I know it was you, Fredo! You broke my heart. You broke my heart!". Mas, de todos os momentos de Michael Corleone, há um que define a personagem - na cena final da parte II, quando a partir da sua casa do lago observa o irmão Fredo num barco a ser morto por ordem sua.
    Depois dos dois "Padrinhos" (1972 e 1974) que interessam, a parte III de 1990 é algo que era.. dispensável. O Michael Corleone que aí vemos é um homem mais maduro, que já não diz que devemos manter os inimigos ainda mais próximos do que os amigos, optando sim por dizer que odiar um inimigo irá afectar o poder de decisão e de pensar com clareza. No 3.º capítulo, Michael é o mentor de Vincent, mostra arrependimento, fraqueza e morre no fim. Embora o filme pareça supérfluo depois dos dois primeiros, vale pelos últimos pensamentos de Michael - a dança com Apollonia, depois com Kay e finalmente com a filha Mary. As três mulheres da vida dele.

    Impressionante como Al Pacino não ganhou nem o óscar de melhor actor secundário pela Parte I, nem o de melhor actor principal pela Parte II. Talvez até não seja o melhor papel de Al Pacino - há muito por onde escolher - mas é para nós a personagem mais interessante. E não há melhor caracterização da transformação de Michael Corleone do que aquela que Don Vito nos oferece quando, regressado do hospital, pergunta onde está o filho preferido e recebe as notícias de que Michael matou Sollozzo e McCluskey. O brilhante Vito de Marlon Brando expulsa toda a gente do quarto, porque naquele preciso momento soube tudo: o filho com mais potencial e capacidade para ser justo e "limpo" tinha-se perdido, mas a família estava protegida. Tinha nascido um novo Padrinho.


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Nota Editorial: A compilação/ organização e ordem das personagens deste Top é responsabilidade de Miguel Pontares e Tiago Moreira. Os textos tiveram a colaboração de Daniel Machado, Lorena Wildering, Nuno Cunha, Sara Antunes Santos e Carolina Moreira.
Foram tidos em consideração filmes lançados até 20 de Novembro de 2014. Mais informamos que poderão existir spoilers relativos às personagens e/ ou aos filmes que elas integram, passíveis de constar na defesa e caracterização de cada uma das 100 personagens.

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